Seguir uma vocação ou escolher uma profissão?


O termo vocação vem do latim, vocare, que quer dizer “chamado”.
Assim, vocação é um chamado íntimo de amor. Amor e prazer por um fazer que dá alegria e satisfação.
Quem atende a esse chamado íntimo certamente desempenhará suas atividades vocacionais com bom ânimo e disposição, não apenas pela remuneração, mas pelo prazer de fazer o que gosta.
Ouvir esse chamamento seria o ideal para qualquer ser humano que desejasse ser útil à sociedade na qual vive.
A excelência do seu trabalho por certo lhe traria, como consequência, uma recompensa financeira satisfatória.
No entanto, a realidade é bem diferente.
Os filhos crescem ouvindo os pais dizer: “alegria não enche barriga”, “vocação nem sempre dá status”, então o jovem precisa optar pela “barriga cheia”, nem que isso lhe custe a alegria de viver e a utilidade.
Aí ele escolhe uma profissão que lhe traga vantagens financeiras e status em vez de ouvir o chamamento íntimo da sua vocação.
Na vocação, a pessoa encontra a felicidade na própria ação. Na profissão, o prazer se encontra não na ação mas no ganho que dela deriva.
O profissional, somente profissional, executa seu “fazer” não por amor a ele, mas por amor a algo fora dele: o salário, o ganho, o lucro, a vantagem.
Já o homem movido pela vocação é um apaixonado pelo seu “fazer”, e faz até de graça, apenas por satisfação.
Essa diferença é fácil de constatar entre um político por vocação e um político por profissão.
A vocação política é uma paixão por um jardim, já que “política” vem de polis, que quer dizer cidade.
A cidade era, para os gregos, um espaço seguro, ordenado e manso, onde os homens podiam se dedicar à busca da felicidade.
O político é aquele que cuida desse espaço. A vocação política, assim, está a serviço da felicidade dos cidadãos, os moradores da cidade. Ainda que seja raro no Brasil.
Dessa forma, um político por vocação é um apaixonado pelo grande jardim para todos. Seu amor é tão grande que ele abre mão do pequeno jardim que poderia plantar para si mesmo.
O político é, antes de tudo, um jardineiro.
O jardineiro por vocação dá sua vida pelo jardim de todos.
O jardineiro por profissão usa o jardim de todos para construir seu jardim privado, ainda que para isso aumentem, ao seu redor, o deserto e o sofrimento.
Essa grande diferença entre vocação e profissão pode se estender a todos os outros ramos de atividades.
Os médicos por vocação, por exemplo, exercem suas atividades com amor e prazer. Sem precisar de juramentos, se dedicam a salvar vidas por amor à causa que abraçam, de coração.
Existem também os profissionais da medicina. Mesmo sob juramento eles só atendem depois de saber quem vai pagar a conta.
Talvez esses sejam os que resolveram seguir o conselho dos mais velhos, quando estes diziam que alegria não enche barriga.
Poderia citar vários exemplos das diferenças entre profissão e vocação, mas isso não vem ao caso.
O que desejamos ressaltar é a necessidade de se ouvir e respeitar o chamado interior, a tendência íntima, a vocação.
Isso não quer dizer que não se deva receber para exercer sua vocação. O que dizemos é que o dinheiro deixa de ser o principal objetivo para ser uma conseqüência natural de uma atividade prazerosa.

Pense nisso!
Quando se trabalha só pela recompensa exterior, a atividade se torna um fardo pesado demais.
Quando se gosta do que se faz o desgaste é menor ou quase nulo.
Como disse o velho e bom Aristóteles, “o prazer aperfeiçoa a atividade”.
Quando se trabalha com prazer, o trabalho pode trazer ótimos resultados ao longo de uma existência.
Por essa razão, sempre vale a pena ouvir esse apelo íntimo chamado vocação.
Pense nisso!

Baseado no cap. 15 do livro “Mansamente pastam as ovelhas”, de Rubem Alves, Ed. Papirus

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