"DEUS NÃO EXISTE!"
Deus não existe. Ele é Ele mesmo pra além de toda essência e
existência.
Portanto, argüir acerca da existência de Deus é o mesmo que
negá-Lo.
Deus não existe. Ele é. Eu existo. Pois existir não é algo
que seja pertinente ao que É. Existir é o que se deriva do que sendo, É de si e
por si mesmo.
Deus não existe. O que existe tem começo. Deus nunca começou.
Deus nunca surgiu. Nunca houve algo dentro do que Deus tenha aparecido.
Deus não existe. Se Deus existisse, Ele não seria Deus, mas
apenas um ser na existência.
Se Deus existisse, Ele teria que ter aparecido dentro de
algo, de alguma coisa, e, portanto, essa coisa dentro da qual Deus teria
surgido, seria a Coisa-Deus de deus.
Existem apenas as coisas que antes não existiam. Existir
surge da não existência. Deus, porém, nunca existiu, pois Ele é.
Sim, dizer que Deus existe no sentido de que Ele é alguém a
ser afirmado como existente, é a própria negação de Deus. Pois, se alguém diz
que Deus existe, por tal afirmação, afirma Deus, e, por tal razão, o nega;
posto que Deus não tem que ser afirmado, mas apenas crido.
Deus É, e, portanto, não existe. Existe o Cosmos. Existem as
galáxias. Existem todos os entes energéticos. Existem anjos. Existem animais e
toda sorte de vida e anima vivente. Existem vegetais, peixes, e organismos de
toda sorte. Existem as partículas atômicas e as subatômicas. Existe o homem.
Etc. Mas Deus não existe. Posto que se Deus existisse dentro da Existência, Ele
seria parte dela, e não o Seu Criador.
Um Criador que existisse em Algo, seria apenas um engenheiro
Universal e um mestre de obras cósmico. Nada, além disso. Com muito poder.
Porém, nada além de um Zeus Maior.
Assim, quando se diz que Deus está morto, não se diz
blasfêmia quando se o diz com a consciência acima expressa por mim; pois, nesse
caso, quem morreu não foi Deus, mas o “Deus existente” criado pelos homens. Tal
Deus morreu como conceito. Entretanto, tal Deus nunca morreu De Fato, pois,
como fato, nunca existiu — exceto na mente de seus criadores.
Assim, o exercício teológico, seja ele qual for, quando tenta
estudar Deus e explicar Deus, tratando-o como existente, o nega; posto que diz
que Deus existe, fazendo Dele um algo, um ente, uma criatura de nada e nem
ninguém, mas que também veio a existir dentro de Algo que pré-existia a Ele, e,
portanto, trata-se de Algo - Deus sobre o tal Deus que existe.
A Escritura não oferece argumentos acerca da existência de
Deus. Jesus tampouco tentou qualquer coisa do gênero. Tanto Jesus quanto a
Escritura apenas afirmam a fé em Deus, e tal afirmação é do homem e para o
homem — não para Deus —; pois se fosse para Deus, o homem seria o Deus de Deus,
posto a existência de Deus dependeria da afirmação e do reconhecimento humano.
Tal Deus nem é e nem existe; exceto na mente de seus criadores.
Deus não existe. O que existe pertence ao mundo das coisas
que existem OU não existem. Deus, porém, não pertence a nada, e, em relação a
Ele, nada é relação.
Defender a existência de Deus é ridículo. Sim, tal defesa
apenas põe Deus entre os objetos de estudo. Por isto, dizer: “Deus existe e eu
provo” — é não só estupidez e burrice; mas é, sem que se o queira, parte da
profissão de fé que nega Deus; pois se tal Deus existe, e alguém prova isto,
aquele que apresenta a prova, faz a si mesmo alguém de quem Deus depende pra
existir... e ou ser.
O que “existe”, pertence à categoria das que coisas que são
porque estão. Deus, porém, não está; posto que Ele É.
Ser e estar não são a mesma coisa, como o são na língua
inglesa. O que existe pertence ao que é apenas porque está. Deus, entretanto,
não está porque Ele É.
“E quem direi que me enviou?” — perguntou Moisés. “Dize-lhes:
Eu sou me enviou a vós outros!” — disse Ele.
Desse modo, Deus não diz “Eu Estou”, mas sim “Eu Sou”. Ora,
um Deus que está, não é, mas passou a ser. Porém o Deus que É, mas não está;
não pertence ao mundo das coisas verificáveis; posto que Aquele que É, não
está; pois se estivesse, seria —, mas não Seria Aquele de Quem procedem todas
as existências, sendo Ele apenas um ele, e não Ele; e, por tal razão, fazendo
parte das coisas que existem — mas sem poder dizer Eu Sou!
Jesus também falou da sutileza do ser em relação ao estar.
Quando indagado acerca da ressurreição pelos saduceus (que não criam em nada
que não fosse tangível), Ele respondeu: “Não lestes o que está escrito? Eu sou
o Deus de Abraão, eu sou o Deus de Isaque, eu sou o Deus de Jacó. Portanto, Ele
é Deus de vivos, e não de mortos; pois para Ele todos vivem”. Assim, os que
vivem para sempre são os que são em Deus, e não os que estão existindo. A vida
eterna não é existir pra sempre, mas ser em Deus.
Assim, para viver eternamente eu tenho que entrar na
dissolvência da existência, a fim de poder mergulhar naquilo que está pra além
do que existe; posto que É.
A morte pertence à existência. A vida, porém, se vincula ao
que não existe, pois, de fato É.
O que existe carrega vida, mas não é vida. A vida,
paradoxalmente, não pertence ao que é existente, mas sim ao que É.
Quando falo de vida, refiro-me não às cadeias de natureza
biológica que constituem a vida dentro da existência. Mas, ao contrario, ao
falar em vida, refiro-me ao que é para além da existência constatável.
Portanto, Paul Tillich tem razão quando diz: “God does not
exist. He is being itself beyond essence and existence. Therefore to argue that
God exists is to deny him”.
Ora, usando uma gíria de hoje, eu diria: Tillich tem razão
quando diz: “Deus não existe!” — pois é isto que hoje se diz quando algo está
pra além da existência: “Meu Deus! Esse cara não existe!”. Assim é com Deus:
Não existe!
Subscrito
BONANI
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