"REDENÇÃO ETERNA E O NARCISISMO TEOLÓGICO ECLESIAL!"
Desde a Era Constantiniana, até nossos dias, tanto a teologia como a igreja histórica com todas suas variantes e afluências, percorrem um rio ou um pavimento que manifestam uma natureza narcisista de ser e de estar.
Narcisismo é um conceito da psicanálise que define o
indivíduo que admira exageradamente a sua
própria imagem e nutre uma paixão excessiva por si mesmo.
Pergunto: O QUE VEM PRIMEIRO: A CRIAÇÃO OU A REDENÇÃO?
Se o Cordeiro foi imolado antes da fundação do mundo,
significa que a criação acontece no ambiente da redenção; e não a redenção
acontecendo no ambiente da criação, conforme ensina a teologia.
Segundo a teologia prevalente, Deus criou, e como algo deu
errado, Ele deu um jeito de amor nas coisas, enviando Seu Filho para resgatar
aqueles que, ouvindo acerca Dele, venham a crer; e, então, se continuarem
firmes na fé, que significa estar “firme na igreja”, eles vão para o céu. Mas
quem não ouviu, ou ouviu e não “creu” — sendo que estar numa “igreja” é o
atestado de que se “creu” —, esse, ou esses muitos (aliás, a maioria absoluta),
estão danados num inferno que é visto como um tempo (cronos) sem fim.
Desse modo, a “igreja” é o centro de todas as coisas que
concernem ao céu e ao inferno, assim como ela é a parte da humanidade que está
salva e tem a obrigação de fazer a outra parte ouvir, aceitar, e entrar para a
“igreja”, a fim de ser realmente salvo.
É de tal sorte o narcisismo da “igreja”!
Essa é a idéia que habita o inconsciente e o consciente da
“igreja” e do “cristianismo”. E é também essa idéia que prevalece nas três
religiões monoteístas do mundo: o judaísmo, o cristianismo e o islamismo.
Nesse caso, por mais que Deus ganhe, somente Ele pode
explicar como ganhou alguma coisa, visto que a maioria absoluta de Suas
criaturas vai direto para o inferno. A menos que a alegria de Deus fosse feita
das gargalhadas do diabo.
Entretanto, essa é a simples implicação de ser crer que o
Deus Criador é um, e que o Deus Redentor é outro; ou que a Graça comum é uma, e
a Graça especial é outra; e que os filhos de criação de Deus são todos os
perdidos, e os filhos salvos são apenas os que se tornaram cristãos.
O resultado de se crer que há uma dualidade entre criação e
redenção, na prática, é aquilo que nós chamamos de História da Igreja. E essa
História declara apenas o desastre de tal visão do mundo. Na realidade, pode-se
dizer que a História do Ocidente, e por extensão de influência e poder, de todo
o mundo — é a História de como tal visão de um mundo dual pode acabar com a
Terra; como hoje se vê.
Entretanto, se o Cordeiro foi imolado antes da fundação do
mundo, o mundo foi criado no ambiente da Redenção; e não o contrário. Ora, tal
percepção desconstrói por inteiro o edifício da teologia cristã e acaba com o
poder Imperial que a “igreja” tomou para si, desde Constantino.
Além disso, toda a narrativa bíblica ganha sentido; visto que
os desastres da criação e as catástrofes humanas — da Queda até hoje —, fazem
parte da redenção em processo na criação; sendo que essa redenção é um
ato-processo que visa levar a criação e o homem à plenitude deles mesmos; o que
só poderia acontecer numa criação que exista já dentro da ambiência da Graça
Única.
Se o Cordeiro não fez Sacrifício antes de criar, tudo o mais
acontece como remendo de pano novo em veste velha; o que se choca com o modo de
Jesus agir. E Ele disse: “Eu e o Pai somos Um”.
Na realidade a visão que a teologia cristã tem da Queda e da
Redenção é a de “remendo de pano novo em vestes velhas”. É por isto que não
pode jamais dar certo; como jamais deu.
Quem, porém, crê que tudo o que existe já foi chamado à
existência no ambiente da Graça, esse nunca mais vê o mundo do mesmo modo; e,
em sua mente, jamais a visão das coisas é a mesma.
Mas como tenho dito, as implicações de tal percepção estão
para além daquilo que a “igreja” deseja, ou concebe aceitar para si, visto que
ela teria que morrer, para poder dar muito fruto.
Somente se na “igreja” houvesse o mesmo espírito que houve
também em Cristo Jesus, o qual se esvaziou, se identificou, e não buscou ser
nem mesmo quem era (Deus), é que poderia haver algum significado para ela nesta
existência ainda. Do contrário, ela não terá qualquer contribuição espiritual a
dar à humanidade.
Enquanto isto, os planos de Deus não são frustrados, e Seu
Espírito segue abraçando a todas as criaturas; e continua derramando Graça
sobre todos os homens, em todos os lugares, segundo a Ordem de Melquisedeque;
pois, tudo e todos os que existem, já estão designados para voltarem para Ele;
pois, pelo Seu sangue, Ele reconciliou consigo mesmo todas as coisas; as quais,
já foram criadas sob o signo da reconciliação eterna realizada pelo Cordeiro
antes de todas as criações.
Tal visão, entre outras coisas, nos levaria a tratar da
criação como quem ministra um sacramento!
No dia em que a visão da fé for a de que a Criação aconteceu
no ambiente da Redenção e da Graça, nesse dia, o culto será a vida e a vida
será o culto; e a catedral será a existência toda; pois, tudo já é nosso, seja
a vida, seja a morte, sejam as coisas do presente ou do porvir; tudo é nosso, e
nós de Cristo, e Cristo de Deus. (adaptado)
BONANI
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