"NA LENTE, TUDO MUDA!"



Quanto mais enxergo de perto, mais complexidade vejo. 
Na lente ninguém é totalmente do bem, nem do mal. Não há santos que resistam ao cotidiano, aos dias quentes, as filas longas, as noites insones ou manhãs de mal humor. Os “maus”, aqueles que gostamos de apontar e dizer “mata, mata”, olhando de perto, demonstram traços de humanidade que espantaria a maioria de nós. Muitos são capazes de cuidar dos filhos, do amigo talvez, com dedicação e amor, contrariando nossa impressão simplista e apressada em dizer é “bom” ou é “mau”. São santos para os seus.
Examine o branco com a lupa, a mais potente que tiver, e verá uma mistura de cores. Não há branco. 
Aproxime-se do laranja, do verde, do vermelho, do azul e verá que cada uma delas representa a soma de tantas outras.Um anônimo que cruza seu caminho em uma tarde qualquer. Um entre tantos rostos desconhecidos, gente que você nunca viu, no entanto, aproxime-se, olhe, converse, ouça, conheça os hábitos e na próxima vez que se cruzarem não será mais um anônimo, será o Sebastião, um conhecido seu.Assim são as pessoas, assim é a vida.  Você jamais conhecerá alguém em sua complexidade de pensamentos, jamais terá acesso aos poços interiores, às sombras, aos processos que refletem no corpo, no jeito, nos atos que não entendemos. Temos vislumbres, sabemos em parte, porque tudo o que temos são os avessos.O avesso é o lado de fora. É a casca, a superfície onde a vida é apenas reflexo. 
Aproxime-se um pouco mais. Veja de perto, enxergue os movimentos da vida e se espantará, não apenas por conta das inevitáveis descobertas, mas, sobretudo, por enxergar-se.
Sustentamos nossas reputações, alimentamos a imagem que a maioria faz, seja para o bem, seja para o mal, mas nada disso resiste quando os filtros dos olhos caem. Sem preconceito, sem nenhum tipo de juízo de valor, nenhuma pretensão em saber alguma coisa, veremos o outro e, no outro, veremos quem somos. Somos o outro também.
Pequenas partes de uma coisa só com reflexos de nossas escolhas, seja no que chamamos de bem ou de mal.  Nessas partes refletem nossa cegueira, nossos medos que se expressam aqui e ali, de um jeito ou de outro, em gente que você odiaria admitir que, apesar dos pesares. essencialmente se parece contigo.
Todo diabo é santo para alguém, todo santo é ou já foi diabo, de modo que só me resta a consciência de que não há santos que resistam ao cotidiano, afinal, quanto mais enxergo de perto, mais complexidade vejo. 
Na lente ninguém é totalmente do bem, nem do mal. Somos nós expostos no outro para que não haja outro, para que não haja nós.
Subscrito;
Bonani

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