“DIREITA E ESQUERDA E MINHA DISLEXIA POLÍTICA”
Acredito que grande parte das pessoas que assistem debates políticos
nutrem muitas dúvidas quando é levantada a questão das posições assumidas por
políticos e seus partidos. Por exemplo, nas questões das mais variadas
doutrinas politicas como o socialismo, liberalismo, neoliberalismo, fascismo,
anarquismo, democracia, comunismo, etc.
E quando
tais
partidos ou simpatizantes ou mesmo
militantes se expressam;
-…eu sou da “direita” ou eu sou da “esquerda”…
…Muitos ficam absolutamente na ignorância!
É sabido e óbvio pela própria dedução e pela
própria condição, que direita e esquerda são posições opostas, ou seja; …"esquerda"
e "direita" são uma forma comum de classificar posições políticas,
ideológicas, ou partidos políticos legais.
Entretanto; …a coisa não é tão simplista
assim como essa configuração bipolar que mencionei acima!
A
oposição entre as duas correntes é imprecisa, ampla, e consiste numa interpretação
dicotômica de uma série de fatores determinantes. Geralmente são entendidas
como polaridades opostas de um mesmo espectro político e ideológico. Assim, um
partido poderia ser "esquerda" em determinadas instâncias e
"direita" em outras.
A
origem dos termos “direita ou esquerda” remonta à Revolução Francesa, onde os
membros do Terceiro Estado, que almejavam uma mudança na forma de governo
vigente, se sentavam à esquerda da assembleia, enquanto os do clero e da
nobreza, que desejavam a conservação da forma de governo, se sentavam à
direita.
Entretanto, com a evolução política e o
avanço civilizacional, as condições e configurações de tais polaridades se tornaram
tão ambíguas, questionáveis e flexíloquas que em
vez de politicamente trabalharem tais pólos para os interesses mais nobres e mais justo em
prol da justiça social que deveria contemplar a maioria desfavorecida, como
também implantar a igualdade entre todos os homens, em vez disso, retroalimentam-se
de outros interesses, produzindo representantes, políticos, militantes com as
mais estranhas manifestações!
Na minha
tentativa de entender e fazer uma
leitura correta sobre o ser de “direita ou
de esquerda” tenho percebido que estou sofrendo de “dislexia!”…rs,rs,rs,…
Não sei quem é quem nem o que é o que!!! …rsrsrsrs….
Encontrei um texto do Frei
Beto que publico abaixo. É uma verdadeira radiografia do que ser da direita ou
da esquerda!
Vamos a ele:
Nada mais parecido a um esquerdista
fanático, desses que descobrem a nefasta presença do pensamento neoliberal até
em mulheres que o repudiam, do que um direitista visceral, que identifica
presença comunista inclusive em Chapeuzinho Vermelho.
Os dois padecem da síndrome de pânico
conspiratório. O direitista, aquinhoado por uma conjuntura que lhe é favorável,
envaidece-se com a claque endinheirada que o adula como um dono a seu cão
farejador. O esquerdista, cercado de adversários por todos os lados, julga que
a história resulta de sua vontade.
O direitista jamais defende os pobres e,
se eventualmente o faz, é para que não percebam quão insensível ele é. Mas nem
pensar em vê-lo amigo de desempregados, agricultores sem terra ou crianças de
rua. Ele olha os deserdados pelo binóculo de seu preconceito, enquanto o
esquerdista prefere evitar o contato com o pobre e mergulhar na retórica
contida nos livros de análises sociais.
O esquerdista enche a boca de categorias
teóricas e prefere o aconchego de sua biblioteca a misturar-se com esse “pobretariado”
que nunca chegará a ser vanguarda da história.
O direitista adora desfilar suas ideias
nos salões, brindado a vinho da melhor safra e cercado por gente fina que
enxerga a sua auréola de gênio. O esquerdista coopta adeptos, pois não suporta
viver sem que um punhado de incautos o encarem como líder.
O direitista escreve, de preferência, para
atacar aqueles que não reconhecem que ele e a verdade são duas entidades numa
só natureza.
O esquerdista não se preocupa apenas em
combater o sistema, também se desgasta em tentar minar políticos e empresários
que, a seu ver, são a encarnação do mal.
O direitista posa de intelectual, empina o
nariz ao ornar seus discursos com citações, como a buscar na autoridade alheia
a muleta às suas secretas inseguranças. O esquerdista crê na palavra imutável
dos mentores do marxismo e não admite outra hermenêutica que não a dele.
O direitista considera que, apesar da
miséria circundante, o sistema tem melhorado. O esquerdista vê no progresso
avanço imperialista e não admite que seu vizinho possa sorrir enquanto uma
criança chora de fome na África.
O direitista é de uma subserviência abjeta
diante dos áulicos do sistema, políticos poderosos e empresários de vulto, como
se em sua cabeça residisse a teoria que sustenta todo o edifício de
empreendimentos práticos que asseguram a supremacia do capital sobre a
felicidade geral.
O esquerdista não suporta autoridade,
exceto a própria, e quando abre a boca plagia a si mesmo, já que suas minguadas
ideias o obrigam a ser repetitivo. O direitista é emotivo, prepotente,
envaidecido. O esquerdista é frio, calculista e soberbo.
O direitista irrita-se aos berros se
encontra no armário a gola da camisa mal passada. Dedicado às grandes causas,
as pequenas coisas são o seu tendão de Aquiles.
O direitista detesta falar em direitos
humanos, e é condescendente com a tortura. O esquerdista admite que, uma vez no
poder, os torturados de hoje serão os torturadores de amanhã.
O direitista esbraveja por ver tantos
esquerdistas sobreviverem a tudo que se fez para exterminá-los: ditaduras
militares, fascismo, nazismo, queda do Muro de Berlim, dificuldade de acesso à
mídia etc. O esquerdista considera o direitista um candidato ao fuzilamento.
Direitista e esquerdista – os dois são
perfeitos idiotas. O direitista padece da doença senil do capitalismo e o
esquerdista, como afirmou Lênin, da doença infantil do comunismo.
Embora mineiro, não fico em cima do muro.
Sou de esquerda, mas não esquerdista. Quero todos com acesso a pão, paz e
prazer, sem que os direitistas queiram reservar tais direitos a uma minoria, e
sem que os esquerdistas queiram impedir os direitistas de acesso a todos os
direitos – inclusive o de expressar suas delirantes fobias.
Frei Betto é escritor, autor do
romance “Minas do Ouro” (Rocco), entre outros livros.
...e eu aqui na minha dislexia política!
BONANI
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