"Tetelestai: Está Consumado!"


 E  quando Jesus tomou o vinagre, disse: Está consumado. E, inclinando a cabeça, entregou o espírito.  João 19:30
Após Jesus ter tomado o vinagre que os soldados lhe deram, disse: Está consumado! E entregou o seu espírito. Esta foi a sexta palavra, das sete pronunciadas na cruz, antes de entregar a Sua vida. Estando no tempo perfeito, significa: “foi e para sempre consumado”. Muito embora no texto grego seja apenas uma palavra, Tetelestai, a tradução para o português fica “Está consumado” ou “Está terminado”.
Mas o que realmente foi consumado na Cruz?

A chave para a compreensão desta questão é saber que a lei do Velho Testamento foi dada à nação de Israel, não aos cristãos em geral. Algumas das leis visavam ao conhecimento, por parte dos Israelitas, de como obedecer e agradar a Deus (Os Dez Mandamentos, por exemplo); algumas delas tinham como objetivo mostrar como adorar a Deus (o sistema de sacrifícios); algumas delas simplesmente diferenciar os Israelitas de outras nações (as regras em relação à comida e vestimentas). Nenhuma das leis do Velho Testamento se aplica a nós nos dias de hoje. Quando Jesus morreu na cruz, Ele aboliu a lei do Velho Testamento (Romanos 7:4; 7:6; 2 Coríntios 3:7-18; Gálatas 3:23-25; Efésios 2:15; Hebreus 8:6-13).
Em substituição à lei do Velho Testamento, nós estamos sob a lei de Cristo (Gálatas 6:2), que é: “‘Ame o Senhor, o seu Deus de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todo o seu entendimento’. Este é o primeiro e maior mandamento. E o segundo é semelhante a ele: ‘Ame o seu próximo como a si mesmo’. Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas.”  (Mateus 22:37-40). Se fizermos estas duas coisas, estaremos cumprindo tudo o que Cristo quer que façamos, “Porque nisto consiste o amor a Deus: em obedecer aos seus mandamentos. E os seus mandamentos não são pesados.” (1 João 5:3). Tecnicamente, nem os Dez Mandamentos são aplicáveis aos cristãos: “[Jesus] Aboliu a Lei dos mandamentos e preceitos.” (Efésios 2:15)
Entretanto, 9 dos Dez Mandamentos são repetidos no Novo Testamento (todos, exceto o mandamento para que se guarde o Sábado). Então, se seguimos esses 9 Mandamentos é porque eles nos foram novamente ensinos por Cristo, no Novo Testamento, e não porque estão no Antigo Testamento. Obviamente, se nós amamos a Deus, não estaremos adorando a outros deuses ou ídolos. Se amamos aos que nos cercam, não os mataremos, não mentiremos para eles, não cometeremos adultério contra eles ou cobiçaremos o que a eles pertence. Portanto, não estamos sob nenhuma das exigências da lei do Velho Testamento. Nós devemos sim amar a Deus e a nosso próximo. Se com fé cumprirmos estes dois preceitos, todo o restante se ajustará.
Entretanto, uma leitura superficial de alguns versículos apresenta uma dificuldade, até dando a impressão de uma contradição nas Escrituras. Alguns religiosos aproveitam esta suposta contradição para negar claras afirmações sobre o anulamento da Lei dada aos israelitas no monte Sinai. Os versículos em questão são os 17 e 18 de Mateus 5, nos quais Jesus diz que não veio para revogar a Lei nem os Profetas, mas cumpri-los, e que nem um i ou um til passariam da Lei até que tudo se cumprisse. Faremos uma análise dos mesmos logo mais. Mas perceba que, se Jesus disse que não veio abolir a Lei nem os profetas, então Ele próprio se contradisse, pois, logo após dizer isso, Ele aboliu muitas leis (Mateus 5:21-48). Como é possível uma coisa dessas? Como entender Sua afirmação em Mateus 5:17-18? Vejamos.
“Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas, não vim para revogar, vim para cumprir. Porque em verdade vos digo, até que o céu e a terra passem, nem um i ou um til jamais passará da Lei, até que tudo se cumpra.” (Mateus 5:17-18)
Alguns citam esta afirmação para tentar obrigar as pessoas de hoje a guardarem o sábado e outros mandamentos da Antiga Aliança. Para compreender esta fala de Jesus, precisamos prestar atenção especial a três palavras que ele usou. A palavra revogar vem de uma palavra grega que significa derrubar, subverter ou destruir. Jesus não veio para subverter a Lei, ele veio para cumprir. A palavra traduzida como cumprir significa completar, levar até o fim, realizar ou obedecer. Jesus não pretendia subverter a lei, ele pretendia cumpri-la, assim a levando até o seu determinado fim. A terceira palavra importante é a preposição até. Os céus e a terra poderiam passar, mas a lei não passaria até ser cumprida. Esta palavra (traduzida até, até que, ou enquanto) significa algo que chega até um certo ponto e termina. Deus falou para José ficar no Egito até que ele fosse avisado (Mateus 2:13). Na morte de Jesus, houve trevas até à hora nona (Lucas 23:44). A Lei não perdeu sua força até ser cumprida por Jesus.
O autor de Hebreus usou uma palavra diferente, embora traduzida em algumas Bíblias pela mesma palavra portuguesa, quando disse: “Portanto, por um lado, se revoga a anterior ordenança, por causa de sua fraqueza e inutilidade (pois a lei nunca aperfeiçoou coisa alguma), e, por outro lado, se introduz esperança superior, pela qual nos chegamos a Deus” (Hebreus 7:18-19). Revogar, neste trecho, significa anular, abolir, ou remover. No mesmo capítulo, ele falou da mudança (ou remoção) da lei (Hebreus 7:12).
Retornando ao texto de Mateus 5:17-18: No versículo 17, Jesus diz que não veio revogar  a Lei nem os Profetas. E isso por quê? Porque a Lei exigia o sacrifício perfeito pelos pecados de todos nós e os Profetas estavam anunciando que esse sacrifício seria ele. Logo, Jesus não veio abolir a Lei, mas cumpri-la, isto é, morrer pelos pecados de todos nós (1 João 2:2; 1 Timóteo 2:6; 2 Coríntios 5:14-15; Hebreus 2:9), e também veio cumprir aquilo que os profetas haviam anunciado sobre ele (Isaías 53:1-12). E no versículo 18, ele diz que nem sequer um i ou um til serão tirados da Lei, até que tudo se cumpra. Isso significa que, de modo algum, deixaria de se cumprir a exigência da Lei e a predição dos Profetas sobre ele (Sua morte em favor dos pecadores).
Analisemos agora com calma o que Jesus disse antes de morrer:
“Depois, sabendo Jesus que já todas as coisas estavam terminadas, para que a Escritura se cumprisse, disse: Tenho sede. Estava, pois, ali um vaso cheio de vinagre. E encheram de vinagre uma esponja, e, pondo-a num hissopo, lha chegaram à boca. E, quando Jesus tomou o vinagre, disse: Está consumado. E, inclinando a cabeça, entregou o espírito.” – João 19:28-30.
Estes versículos claramente nos mostram que Jesus veio cumprir a Lei, isto é, morrer por nós. Perceba que no versículo 18 de Mateus 5, Jesus diz que nada seria retirado da lei até que tudo se cumprisse, isto é, até que Ele morresse por nós. Perceba também que no versículo 28 de João 19, diz que Jesus sabia que todas as coisas estavam terminadas, para que se cumprisse a Escritura, ou seja, Ele já estava na cruz, morrendo por nós. Como tudo já estava, como Ele mesmo disse, “consumado” (v. 30), então a lei já podia ser revogada. É interessante notar que a lei não foi revogada enquanto Jesus ainda estava vivo. Ela só foi revogada depois de Sua morte, isto é, depois de estar cumprida.
Então citar Mateus 5:17-18 para dizer que todas as leis do Antigo Testamento ainda são válidas significa distorcer o texto e forçar o sentido do mesmo. Cristo revogou, sim, a Lei na cruz, embora a tenha cumprido em vida. É importante entendermos que, em Mateus 5:17-18, Jesus não disse que todas as leis do Antigo Testamento ainda valem, Ele só disse que veio cumprir o que a Lei exigia: o sacrifício perfeito pelos pecados do todo o mundo, e o que os Profetas haviam anunciado sobre Ele na Escritura, isto é, que Ele seria esse sacrifício (Isaías 53). E Ele cumpriu, pagou o preço pelos nossos pecados, isto é, “cancelou a escrita de dívida, que consistia em ordenanças e que nos era contrária. Ele a removeu, pregando-a na cruz.” (Colossenses 2:14).
cristo
Se assim não fosse, isto é, se Cristo não tivesse revogado a Lei de Moisés (após cumpri-la), então como explicar textos que claramente dizem que Cristo aboliu a lei de Moisés?
Romanos 7:4: “Meus irmãos, o mesmo acontece com vocês: pelo corpo de Cristo, vocês morreram para a Lei, a fim de pertencerem a outro, que ressuscitou dos mortos, e assim produzirem frutos para Deus.”
Romanos 7:6-7: “Mas agora, morrendo para aquilo que nos aprisionava, fomos libertos da Lei, a fim de servirmos sob o regime novo do Espírito, e não mais sob o velho regime da letra. Que diremos então? A Lei é pecado? De maneira nenhuma! De fato, eu não saberia o que é pecado, a não ser por meio da Lei. Pois, na realidade, eu não saberia o que é cobiça, se a Lei não dissesse: ‘Não cobiçarás’.”
Gálatas 3:21-25: “Então, a Lei opõe-se às promessas de Deus? De maneira nenhuma! Pois, se tivesse sido dada uma lei que pudesse conceder vida, certamente a justiça viria da lei. Mas a Escritura encerrou tudo debaixo do pecado, a fim de que a promessa, que é pela fé em Jesus Cristo, fosse dada aos que creem. Antes que viesse essa fé, estávamos sob a custódia da Lei, nela encerrados, até que a fé que haveria de vir fosse revelada. Assim, a Lei foi o nosso tutor até Cristo, para que fôssemos justificados pela fé. Agora, porém, tendo chegado a fé, já não estamos mais sob o controle do tutor [a Lei].”
Efésios 2:15: “[Jesus] Aboliu a Lei dos mandamentos e preceitos.”
2 Coríntios 3:7-18: “O ministério da morte, gravado com letras sobre a pedra, ficou tão marcado pela glória, que os israelitas não podiam fixar os olhos no rosto de Moisés, por causa do fulgor que nele havia – fulgor, aliás, passageiro. Quanto mais glorioso não será o ministério do Espírito! Na verdade, se o ministério da condenação foi glorioso, muito mais glorioso será o ministério da justiça. Mesmo a glória que aí se verificou, já não pode ser considerada glória, em comparação com a glória atual, que lhe é muito superior. De fato, se foi marcado pela glória o que é passageiro, com maior razão há de ser glorioso o que é permanente. Fortalecidos por tal esperança, estamos plenamente confiantes: nós não fazemos como Moisés que colocava um véu sobre a face para que os filhos de Israel não percebessem o fim daquilo que era passageiro… No entanto, os espíritos deles se tornaram obscurecidos. Sim, até hoje, quando eles leem o Antigo Testamento, esse mesmo véu permanece; não é retirado, porque é em Cristo que ele desaparece. Sim, até hoje, todas as vezes que leem Moisés, há um véu sobre o coração deles. Somente pela conversão ao Senhor é que o véu cai, pois o Senhor é o Espírito; e onde se acha o Espírito do Senhor aí existe a liberdade. E nós que, com a face descoberta, refletimos como num espelho a glória do Senhor, somos transfigurados nessa mesma imagem, cada vez mais resplandecente pela ação do Senhor, que é Espírito.”
Façamos mais algumas considerações sobre a abolição das leis:
“De fato, Moisés afirmou: ‘O Senhor Deus fará surgir, entre os irmãos de vocês, um profeta como eu. Escutem tudo o que ele disser a vocês. Quem não der ouvidos a esse profeta será eliminado do meio do povo.’” – Atos dos Apóstolos 3:22-23.
Ele estava se referindo a Jesus: “Se vocês cressem em Moisés, creriam em mim, pois ele escreveu a meu respeito.” (João 5:46).
Agora vejamos o que Jesus diz: “A Lei e os profetas chegaram até João; daí para a frente o Reino de Deus é anunciado, e cada um se esforça para nele entrar, com violência. ” – Lucas 16:16.
Deus fez uma nova aliança com o Seu povo, abolindo a antiga:
Hebreus 8:6-13: “Jesus, porém, foi encarregado para um serviço sacerdotal superior, pois é mediador de uma aliança melhor, que promete melhores benefícios. De fato, se a primeira aliança não tivesse defeito, nem haveria lugar para segunda aliança. Mas Deus, queixando-se contra o seu povo, diz: “Eis que virão dias, fala o Senhor, nos quais concluirei uma aliança nova com a casa de Israel e com a casa de Judá. Não será como a aliança que fiz com seus antepassados, no dia em que os tomei pela mão para fazê-los sair da terra do Egito. Uma vez que eles não foram fiéis à minha aliança, eu também não me preocupei mais com eles, diz o Senhor. Esta é a aliança que vou concluir com a casa de Israel, depois daqueles dias, fala o Senhor: Porei minhas leis na mente deles e as imprimirei em seus corações; eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo. Nenhum deles terá mais o que ensinar ao seu compatriota nem ao seu próprio irmão, dizendo: ‘Conheça o Senhor!’ Pois todos me conhecerão, desde o menor até o maior. Porque eu vou perdoar as faltas deles e não me lembrarei mais dos seus pecados.” Dizendo “aliança nova”, Deus declara que a primeira ficou antiquada; e aquilo que se torna antigo e envelhece, vai desaparecer logo.”
Os cristãos não estão “subordinados” à Lei (Gálatas 3:23-25). Mesmo os cristãos judeus, que estavam sujeitos à lei, foram libertados dela (Romanos 7:6). O escrito da dívida foi removido inteiramente na cruz, pois Jesus cumpriu aquela Lei (Colossenses 2:14). Após a morte do Testador, a Nova Aliança tomou seu lugar (Hebreus 8:6-13; 9:15-17). Jesus não subverteu a Lei do Antigo Testamento; Ele cumpriu e removeu aquela e nos deu a Nova Aliança.

Muitas pessoas ainda hoje insistem em cumprir a Lei. Vejamos o que a Bíblia diz sobre essas pessoas:
“Já os que se apoiam na prática da Lei estão debaixo de maldição, pois está escrito: ‘Maldito todo aquele que não persiste em praticar todas as coisas escritas no livro da Lei’.” (Gálatas 3:10). Aqui Paulo diz que quem decide guardar a Lei está obrigado a guardá-la por inteira. Assim, quem se abstêm de guardar todo o conteúdo da lei, guardando apenas partes dela, está debaixo da maldição, isto é, da condenação, por não cumprir toda a Lei. E Paulo continua, dizendo: “É evidente que diante de Deus ninguém é justificado pela Lei, pois “o justo viverá pela fé.” (Gálatas 3:11). Ou seja, não adianta querer cumprir a Lei, pois ela não justifica: “Pois sustentamos que o homem é justificado pela fé, independente da obediência à Lei.” (Romanos 3:28). “Cristo nos redimiu da maldição da Lei quando se tornou maldição em nosso lugar, pois está escrito: ‘Maldito todo aquele que for pendurado num madeiro.” (Gálatas 3:13)
Vocês, que procuram ser justificados pela lei, separaram-se de Cristo; caíram da graça.” (Gálatas 5:4)

Tiago fala da “lei da liberdade” em sua epístola, e até diz que “quem obedece a toda a Lei, mas tropeça em apenas um ponto, torna-se culpado de quebrá-la inteiramente”, por isso o melhor é falar e agir de acordo como quem vai ser julgado pela “lei da liberdade”, a qual consiste em amar o próximo como a si mesmo – Tiago 2:8-13.
“Se vocês de fato obedecerem à lei real encontrada na Escritura que diz: ‘Ame o seu próximo como a si mesmo‘, estarão agindo corretamente. Mas se tratarem os outros com favoritismo, estarão cometendo pecado e serão condenados pela Lei como transgressores. Pois quem obedece a toda a Lei, mas tropeça em apenas um ponto, torna-se culpado de quebrá-la inteiramente. Pois aquele que disse: ‘Não adulterarás’, também disse: ‘Não matarás’. Se você não comete adultério, mas comete assassinato, torna-se transgressor da Lei. Falem e ajam como quem vai ser julgado pela lei da liberdade; porque será exercido juízo sem misericórdia sobre quem não foi misericordioso. A misericórdia triunfa sobre o juízo!” (Tiago 2:8-13)

O fato de a antiga Lei ter sido abolida não significa que agora está “tudo permitido”. Cristo nos resgatou da maldição da Lei (Gálatas 3:13), não para nos deixar sem lei, mas para nos conduzir à nova, que é a Sua Lei, a Lei da liberdade (Gálatas 5:13; Romanos 7:6-7), que consiste no amor:
“Um novo mandamento lhes dou: Amem-se uns aos outros. Como eu os amei, vocês devem amar-se uns aos outros” – João 13:34.
“Não devam nada a ninguém, a não ser o amor de uns pelos outros, pois aquele que ama seu próximo tem cumprido a lei. Pois estes mandamentos: ‘Não adulterarás’, ‘não matarás’, ‘não furtarás’, ‘não cobiçarás’, e qualquer outro mandamento, todos se resumem neste preceito: ‘Ame o seu próximo como a si mesmo’. O amor não pratica o mal contra o próximo. Portanto, o amor é o cumprimento da lei” – Romanos 13:8-10.
“Toda a Lei se resume num só mandamento: ‘Ame o seu próximo como a si mesmo'” – Gálatas 5:14.
Subscrito
Bonani

Comentários

  1. Jesus nos libertou de toda a escravidão do pecado. Deus nos deu a liberdade para escolhermos o caminho a seguir. O único caminho que nos leva a salvação é o caminho de Jesus. E, observando Jesus, devemos seguir os teus ensinamentos que se baseiam no amor. Devemos sempre amar ao próximo como a nós mesmos!

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