Em Busca dos Neutrinos

 Escondido a 1.000 metros de profundidade sob o Monte Ikeno, no Japão, encontra-se o Super-Kamiokande, um dos experimentos científicos mais ambiciosos e enigmáticos do mundo. À primeira vista, o local impressiona pela estética: uma imensa câmara revestida por mais de 11 mil tubos fotomultiplicadores dourados, cercando um tanque com 50 mil toneladas de água ultrapura. Mas a verdadeira maravilha está em seu propósito — detectar neutrinos, partículas subatômicas quase sem massa que atravessam a Terra inteira como se ela não existisse.

Os neutrinos são gerados em abundância por reações nucleares em estrelas, supernovas e até mesmo no Sol. Eles raramente interagem com a matéria, o que torna sua detecção um enorme desafio. Quando, ocasionalmente, um neutrino colide com uma molécula da água no Super-Kamiokande, ele produz uma partícula carregada que emite um leve brilho azul conhecido como luz Cherenkov. Essa luz é captada pelos tubos sensíveis, que permitem aos cientistas reconstruir a trajetória e a energia do neutrino.

A água usada no experimento é incrivelmente pura — tão livre de impurezas que se torna corrosiva. Essa característica foi percebida de forma curiosa: ao deixarem um martelo comum no tanque por tempo suficiente, os cientistas notaram que ele começou a se deteriorar. Isso acontece porque, em busca de equilíbrio químico, a água ultrapura “puxa” íons de metais próximos, acelerando o processo de corrosão.

O Super-Kamiokande foi essencial para comprovar que os neutrinos oscilam entre diferentes “sabores” (elétron, múon e tau), revelando que essas partículas têm massa. Essa descoberta histórica rendeu o Prêmio Nobel de Física em 2015 a Takaaki Kajita, um dos líderes do projeto. Hoje, o Super-K segue ativo, monitorando o universo em busca de sinais de supernovas distantes, colapsos estelares e até tentando detectar um evento ainda mais raro: o hipotético decaimento do próton, que poderia mudar completamente nossa compreensão sobre a estabilidade da matéria.

Bonani