…“SER PASTOR OU “SER EU”?

1. Como fica a alma de um homem que tem que viver num ambiente no qual quase tudo o que ele sente, não pode ser confessado, pois é visto como pecado?
2. Como fica a alma de um homem para quem a realidade não é o que é, mas o que se diz que deve ser?
3. Como fica a alma de um homem que se alimenta de formas e letras, de doutrinas e de escritos, de condutas e de comportamentos, de performances e de realizações, todas, supostamente, sendo consideradas obras de Deus?
4. Como fica a alma de um homem que pensa que Deus pertence ao ambiente das doutrinas certas e das declarações de fé que são apenas credos construídos pelo intelecto?
5. Como fica a alma de um homem para quem todo instinto é mal, e todo virtude só existe como negação do belo, do prazeroso, e do que seja liberdade?
6. Como fica a alma de um homem que crê que a Obra de Deus é feita por um monte de gente que acredita que se eles não realizarem certas programações Deus não terá agido no mundo?
7. Como fica a alma de um homem que chega em casa, pega a Bíblia, a lê, e diz: Puxa, hoje eu tenho que ter a Palavra de Deus para o povo?
8. Como fica a alma de um homem que não vive conforme pensa e não pensa conforme vive?
9. Como fica a alma de um homem que em todo lugar se pergunta se ele está "próprio" para o lugar e a ocasião, e que privilegia muito mais as etiqueta-da-alma (conforme a religião), que a espontaneidade do existir?
10. Como fica a alma de um homem que não pode simplesmente ser de Deus, mas tem que fazer para Deus?
Esse ser-pastor é a receita certa para a petrificação da alma!

Ora, o que tenho eu a lhe dizer?

Que os pastores sejam como se não fossem; e que os que ministram como se não ministrassem; que os que pregam, como se não pregassem; os que ensinam, como se nada soubessem; que os que aprendem, como se eles mesmos fossem os únicos a aprender; que os que servem, como se não servissem; que os que dirigem, como se nada dirigissem; que os que anunciam a Boa Nova sejam os mais carentes dela; que os que ensinam a Graça, não se tratem a si mesmos na Lei; que os que sobem ao púlpito considerem aquele o lugar mais baixo da reunião; que aqueles que estudam, percebam-se como aqueles que saberão para sempre que nada sabem; e que os que amam a Jesus sejam como aqueles que não amam nada mais...mesmo que seja um “tudo” feito em nome Dele.
Meu amigo, somente quando isto acontece é que a pessoa fica livre da "possessão pastoral-de-si-mesmo", que é uma das castas mais difíceis de se expulsar.

"Pastores que a si mesmos se apascentam"—conforme Judas, é, antes de tudo, ser aquele indivíduo que é para si, não para os outros.
A ironia é que uma pessoa como você se sente dando tudo pelos outros, quando, na realidade, está é dando tudo a si mesmo; ou ao seu “si-mesmo”.
E por que? Porque a pessoa só é para os outros quando deixa de ser para o "si-mesmo".
Ora, o tal "modelo pastoral" é a própria gestão do "si-mesmo" como marketing para o próximo.
Neste ponto institui-se a contradição maligna. O sujeito não é ele mesmo na intenção de produzir um "si-mesmo" que seja para o "bem do povo".
Esta é a forma mais perversa de dissolução. Sim, é pura dis-solução. É a total perda de solução interior, enquanto a própria pessoa pensa que está construindo um "caráter".
Caráter, no meio cristão, em geral, é a própria expressão da fabricação de um ser formal e formol, e que existe como aparência rochosa para a percepção dos outros.
Na Palavra, entretanto, caráter equivale a consciência. Assim, um homem de caráter é um homem de consciência. E um homem de consciência não é duro, mas fluido como a água.
O que há mais forte na Terra do que a água? E o que há na Terra mais mole que a água? No entanto, quem pode vencê-la? Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura!
Ora, o "modelo pastoral" propõe o tornar o ser algo rochoso, e isto em nome do caráter. E tentativa aquilo que mais promove a própria dissolução do ser. Trata-se de uma "solução rochosa"; e é ela que apascenta a alma para campos de pederneira.
A alma não é como pedra. A alma é como água. E sua solução é assim, metaforicamente falando.
O ser humano perde a solução interior quando vai para qualquer pólo da existência que não seja ele mesmo. Assim, o promiscuo se torna dissoluto em razão de que seus excessos tiram-lhe a solução interior. Já o religioso (e entre esses os chefes da religião, os pastores) perde a solução interior na medida em que ele teme o interior com a consistência da água; e, assim, por achar a água mole, ele se pedra.
Só que não há pedra na Terra que suporte a força da água.
A consciência é como a água. Ela sempre encontra o caminho para a vida, e se adapta a tudo, sem perder em nada a si mesma.
O caráter como pedra, entretanto, ou esmaga ou se estilhaça. É assim o caráter pastoral: quando não esmaga, se estilhaça. E, muitas vezes, enquanto esmaga ele mesmo se estilhaça.

Experimente ser você mesmo. Sim, experimente falar do que existe em você de modo verdadeiro—sem entregar pérolas aos porcos, é claro!—; experimente expressar sua compreensão do Evangelho com liberdade, sem ficar se perguntando o que os seus superiores hierárquicos e o povo possam pensar; e experimente olhar para si mesmo tratando essa coisa de ser "pastor" como pura bobagem; e dando importância não ao seu título e nem à sua formação "teológica", mas sim, priorizando o seu coração como lugar no qual a Palavra quer se estabelecer como bem; e não como uma informação intelectual, ou como uma capacitação profissional e performática.
Experimente ser água, e você será sempre próprio. Será pesado sendo leve; será visível sendo transparente; será poderoso e sendo inofensivo; será tudo sendo in-a-palpável; será essencial sendo simples; será imprescindível sendo despretensioso.
Experimente deixar de estudar para pregar, e experimente se esvaziar para pregar. Sim, experimente desconsiderar as importâncias da religião e simplesmente acolher com amor a mensagem da Graça. Experimente desconfiar de todas as coisas que todos dizem que são importantes, posto que as verdadeiras importâncias quase nunca são percebidas pela maioria.
Respeite seu coração, e você respeitará o dos outros. Trate aos outros com carinho, e você mesmo aprenderá a se tratar com carinho. Então, meu amigo, o ser pastor, para você, será tão leve como respirar; e a sua vida não realizará a obra de Deus, mas será o lugar no qual Deus mesmo realizará a Sua obra.
No dia em que os pastores pararem de ambicionar por poder, e passarem a buscar pacificação interior, então, de fato, pastores nascerão na Terra.
Por enquanto, tem-se apenas uns nervosos e aflitos, e que compartilham com o povo suas próprias incapacidades e infelicidades existenciais na forma de mandamento divino.
...(Extraído)

BONANI


Comentários

  1. Olá Pr. Obrigada pela visita ao meu blog. Eu não tinha notado que a matéria que meu marido escreveu tinha saído no Genizah. Ele escreveu em seu blog: caminhoparaespiritualidade.blogspot.com
    Abraços,

    Lidiane

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