Nietzsche:OBRIGADO PELA SUA PRECISA PROFECIA!(Aos hermenêutas e exegetas evangélicos de plantão: leiam antes de tomar qualquer conclusão precipitada!)


Deus Não Está Morto – Wikipédia, a enciclopédia livre
Assisti, por uma questão de empatia por alguns, o filme “Deus não está Morto.
A proposta do filme, aliás, com grandes pitadas de influência Hollywoodiana, desenvolve-se no contexto de um jovem, Josh Wheaton, que entra para a universidade. Ele conhece um arrogante professor de filosofia que não acredita em Deus. O aluno reafirma sua fé e é desafiado pelo professor a provar a existência de Deus.
Confesso que o que mais me chamou a atenção foi a forma nítida de abordagem de um tema teológico que tenta provar a existência de Deus a partir de um formato evangélico americano, onde o professor, depois de uma situação trágica, vai parar num show gospel e lá tem um “encontro com Deus!” Ou seja, em síntese: o filme parece mais uma publicidade de uma conversão aos moldes da forma dogmática e ortodoxa da teologia sistemática e fundamentalista americana, onde a igreja local, ou, o espaço gospel é o epicentro teofânico da salvação.
O título do filme é uma clara oposição à famosa declaração “Deus está Morto” do filosofo alemão Nietzsche. Essa frase aparece pela primeira vez no início do Livro Três de A Gaia Ciência (1882). Um pouco mais tarde, é a ideia central no famoso aforismo intitulado "O louco", que começa assim:
“Nunca ouviram falar do louco que acendia uma lanterna em pleno dia
e corria pela praça, gritando: “Eu procuro Deus! Eu procuro Deus!”
Mas aqueles que não acreditam em Deus, ficavam rindo, e diziam:
“Estará perdido, tal uma criança?”, “Estará escondido? Estará com
medo de nós?”, “Terá viajado?”
 O louco então gritou:
– Para onde foi Deus? o que vos direi!
Nós o matamos! Vós e eu!
Somos nós, nós todos, os assassinos!
Mas como fizemos isso?
Como esvaziamos o mar? Como apagamos o horizonte?
Como tiramos a terra de sua órbita? Para onde vamos agora?
Não estamos sempre caindo? Para frente, para trás, para os lados?
Mas haverá ainda um acima, um abaixo?
Não estaremos vagando através de um infinito. Nada?
Não sentiremos na face o sopro do vazio? O imenso frio?
Não virá sempre noite após noite? Não acenderemos lâmpadas
em pleno dia?
Não podem ouvir o barulho dos coveiros – enterrando Deus?
Ainda não sentiram o fedor da decomposição divina?
Os deuses também apodrecem! E Deus morreu!
Deus está morto! E nós o matamos!”

Deus está morto!

O que tudo isso significa?
O primeiro ponto bastante óbvio a fazer é que a afirmação “Deus está morto” é paradoxal. Deus, por definição, é eterno e todo-poderoso. Ele não é o tipo de coisa que pode morrer. Então, o que significa dizer que Deus está “morto”? A ideia opera em vários níveis.

Como a religião perdeu o seu lugar na nossa cultura
O significado mais óbvio e importante é simplesmente este: Na civilização ocidental, a religião em geral, e o cristianismo em particular, estão em um declínio irreversível. Ele está perdendo, ou já perdeu o lugar central que tem mantido nos últimos dois mil anos. Isto é verdade em todas as esferas: na política, filosofia, ciência, literatura, arte, música, educação, vida social cotidiana, e as vidas espirituais interiores dos indivíduos.
Alguém poderia objetar: mas com certeza, ainda existem milhões de pessoas em todo o mundo, incluindo o Ocidente, que ainda são profundamente religiosas. Este é sem dúvida verdade, mas Nietzsche não vai negá-la. Ele está apontando para uma tendência em curso que, como ele indica, a maioria das pessoas ainda não compreende totalmente. Mas a tendência é inegável.
No passado, a religião era central em nossa cultura. A música de Bach era religiosa na inspiração. As maiores obras de arte do Renascimento, como A Última Ceia de Leonardo da Vinci, normalmente tomavam temas religiosos. Cientistas como Copérnico, Descartes e Newton, eram homens profundamente religiosos. A ideia de Deus desempenhou um papel fundamental no pensamento de filósofos como Tomás de Aquino, Descartes, Berkeley e Leibniz. Sistemas de ensino inteiros foram regidos pela igreja. A grande maioria das pessoas foi batizada, casada e enterrada pela igreja, e frequentavam a igreja regularmente ao longo das suas vidas.
Nada disso é verdade mais. A frequência à igreja, na maioria dos países ocidentais mergulhou em figuras individuais. Muitos preferem agora cerimônias seculares no nascimento, casamento e morte. E entre os intelectuais-cientistas, filósofos, escritores, e artistas-religiosos a crença não desempenha praticamente nenhum papel em seu trabalho.

O que causou a morte de Deus?
Portanto, este é o primeiro e mais básico sentido em que Nietzsche pensa que Deus está morto. Nossa cultura está se tornando cada vez mais secularizada. A razão não é difícil de entender. A revolução científica que começou no século 16 logo ofereceu uma maneira de compreender os fenômenos naturais que se mostrou claramente superior à tentativa de compreender a natureza por referência aos princípios religiosos ou escrituras. Esta tendência ganhou força com o Iluminismo no século 18, que consolidou a ideia de que a razão e evidência ao invés de escritura ou da tradição devem ser a base para nossas crenças. Combinado com a industrialização no século 19, o crescente poder tecnológico desencadeado pela ciência também deu às pessoas uma sensação de maior controle sobre a natureza. Sentir-se menos à mercê de forças incompreensíveis também desempenhou o seu papel na derrocada da fé religiosa.

Mais significados de “Deus está morto! “
Como  Nietzsche deixa claro em outras seções de “A gaia Ciência”; sua afirmação de que Deus está morto não é apenas uma afirmação sobre a crença religiosa. Em sua opinião, grande parte da nossa maneira padrão de pensamento carrega elementos religiosos que não estão conscientes. Por exemplo, é muito fácil falar sobre a natureza como se ele contivesse propósitos. Ou se falamos sobre o universo como uma grande máquina, esta metáfora carrega a implicação sutil que a máquina foi projetada. Talvez o mais fundamental de todos é a nossa hipótese de que não existe tal coisa como verdade objetiva. O que queremos dizer com isso é algo parecido com o modo como o mundo poderia ser descrito do “ponto de vista do olho de Deus” – ponto de vista que não é apenas um entre muitas perspectivas, mas é a única verdadeira perspectiva. Para Nietzsche, porém, todo o conhecimento tem que ser de uma perspectiva limitada.

Implicações da morte de Deus
Por milhares de anos, a ideia de Deus (ou deuses) ancorou o nosso pensamento sobre o mundo. Foi especialmente importante como base para a moralidade. Os princípios morais que se seguem (Não mate. Não roube. Ajude aqueles em necessidade. Etc.), tinham a autoridade da religião por trás deles. E a religião forneceu um motivo para obedecer a essas regras, uma vez que nos disse que a virtude seria recompensada os vícios punidos. O que acontece quando este tapete é puxado para fora?
Nietzsche parece pensar que a primeira resposta será confusão e pânico. O aforismo “O louco” citado acima é cheio de perguntas terríveis. Uma descida no caos é vista como uma possibilidade. Mas Nietzsche vê a morte de Deus como um grande perigo e uma grande oportunidade. Ela nos oferece a oportunidade de construir uma nova “tabela de valores”, aquela que vai expressar um recém-descoberto amor deste mundo e por esta vida
Pensando em tudo isso descrito acima que caberia muito mais num discurso Pós Moderno, que também já está se despedindo e saindo de cena dando lugar ao  “ Novo Normal”, e nesse quesito  Nietzsche é um profeta, que  vê a morte de Deus como um grande perigo e uma grande oportunidade, pois ela nos  oferece a oportunidade de construir uma nova “tabela de valores”, aquela que vai expressar um recém-descoberto amor deste mundo e por esta vida!

Pergunto:

- Qual será o papel no cenário atual da confissão evangélica e sua plataforma de ação?
-A líteralização, ou seja, fixar um único sentido a práxis evangélica será proposta inteligente de afirmação do evangelho ao homem, ou, haverá de se começar fortemente a compreender que encontramos  capacidade polissêmica na exposição do Evangelho?
-Na exegese e hermenêutica fundamentalista, nas quais realidade e discurso são identificados como a mesma coisa, os parâmetros interpretativos e aplicativos se sustentarão no Novo Normal, ou, nos é necessário repensar seriamente nossa exegese e hermenêutica à luz de novos desafios, principalmente os científicos que são comprovadamente necessários como vimos nessa pandemia do Covid 19?
Pensando em tudo isso, fica assim os meu agradecimento póstumo ao profeta Nietzsche pela possibilidade que me tem dado de entender que para uma grande ilusão(Deus existe) o melhor remédio é uma grande demolição teológica de entender que; Deus É!

Bonani

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