A Tirania da Perfeição
A perfeição, como um cárcere invisível, lança-me em seus grilhões e subjuga-me sob seu jugo implacável. Talvez não passe de um ídolo quimérico, um espectro idealizado, um simulacro inatingível que, contudo, escraviza-me a uma demanda insaciável. Seu decreto, insidioso e silencioso, impõe-se como uma miragem sedutora, um reflexo enganador que obliteria a autenticidade e ofusca a beleza inata das imperfeições que me compõem.
Ah, quão árduo é o fardo da perfeição! Ela nos impõe uma marcha incessante rumo ao inalcançável, um voo cego em direção a um horizonte que sempre se retrai à nossa aproximação. Iludidos por sua promessa de completude, sufocamos nossas fragilidades, ocultamos nossas hesitações e silenciamos nossas falhas, como se nelas residisse a vergonha, e não a essência mesma do humano. No entanto, é na vulnerabilidade que germina a força; é no frágil desamparo da existência que brotam a coragem e a resiliência.
A perfeição, essa tirana inclemente, priva-nos do direito de sermos imperfeitos, de sermos livres. Obriga-nos a perseguir uma quimera que jamais se corporifica, relegando-nos a uma existência de frustração e fuga. Vivemos assim, condenados à ilusão de um ideal absoluto, negando a nós mesmos o gozo pleno do efêmero e do transitório. Mas a vida não se desenha em linhas retas e simétricas; antes, é um bordado de fios soltos e assimetrias inesperadas, onde cada nó, cada desvio, cada rasgo é um vestígio de autenticidade.
Eis que na imperfeição reside a verdadeira arte do existir. Na pincelada tortuosa de um quadro, a alma do artista se insinua com mais verdade do que na linearidade impecável das formas rígidas. Na voz trêmula de um cantor, há mais emoção do que na frieza técnica de uma execução perfeita. Nas cicatrizes impressas no corpo e na alma, ocultam-se as narrativas mais comoventes e os testemunhos mais profundos da vida vivida.
Ó, quão cruel é a condenação da perfeição! Ao nos lançarmos em sua perseguição desvairada, olvidamos que a verdadeira beleza não se cumpre no acabado, mas no inacabado; não na imutabilidade do ideal, mas na efervescência do imperfeito. A vida, essa obra inacabada, é feita de tentativas, de falhas e de reinvenções constantes. Seu esplendor não reside na exatidão, mas no inesperado, na sublime desordem de sua tessitura.
E assim, é na imperfeição que encontramos o fulgor da existência. É no erro que nasce a aprendizagem, na hesitação que se revela a consciência, no efêmero que resplandece a eternidade. Se há uma arte em viver, ela está em aceitar que somos fragmentos de uma obra inacabada, rascunhos de uma beleza que não se impõe pela perfeição, mas pela sublime imperfeição de sermos humanos.
Oliver Harden
Subscrito
Bonani
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