O Silêncio .O Indizível.O Virar da Última Página!
Há algo que vive nos interstícios da linguagem, uma presença que se esconde no espaço entre as palavras. Esse vazio, que parece ausência, é na verdade um ventre onde germina o indizível. Pois o que mais nos toca e nos transforma não é necessariamente aquilo que dizemos, mas aquilo que nos escapa, aquilo que permanece à margem, sussurrando sua existência nas entrelinhas.
Toda palavra é uma tentativa de captura, um esforço de aprisionar a vastidão dentro do contorno estreito da fala. Mas o indizível escorre pelos dedos, dissolve-se no ar antes de se fixar no som, transita entre o querer dizer e o não saber como. Como um véu translúcido, o silêncio cobre o que há de mais verdadeiro, pois certas verdades não suportam a dissecação do discurso. São sensações demasiado vastas, angústias que não se deixam traduzir, lembranças que se recusam a ser nomeadas.
O silêncio, então, não é um mero intervalo entre palavras – ele é o que as sustenta. Como uma partitura que precisa das pausas para dar forma à melodia, o pensamento humano só se organiza porque há vazios, hesitações, suspensões. No entanto, ao mesmo tempo que o silêncio nos concede profundidade, ele nos ameaça. Porque encará-lo é encarar o abismo daquilo que não pode ser explicado, daquilo que não pode ser controlado pelo verbo.
O Medo da Última Página
E talvez seja esse o motivo pelo qual tememos a última página – porque ela é a fronteira definitiva entre a palavra e o silêncio absoluto. A leitura, assim como a própria vida, é um fio contínuo de significados provisórios, uma narrativa que, enquanto se desenrola, nos protege do vazio. Enquanto há páginas por virar, há a ilusão da permanência, há a crença de que sempre haverá mais um capítulo, mais um parágrafo, mais uma frase a ser escrita.
Mas chega um momento em que o inevitável se impõe. A mão hesita ao avançar para o derradeiro parágrafo. Como se adiar o fim fosse prolongar a existência. Como se evitar a última palavra fosse impedir que o silêncio final nos envolvesse. Mas o silêncio chega, implacável. Ele é o ponto final que nenhuma reticência pode substituir.
Tememos a última página porque ela nos entrega ao indizível, ao espaço onde já não há linguagem capaz de nos ancorar. É o instante em que a narrativa se apaga e nos resta apenas a consciência do término. E, no entanto, a beleza de uma história não está em sua eternidade, mas no caminho que nos conduziu até ali. É o próprio limite que dá sentido ao trajeto, a própria finitude que confere peso ao instante.
Talvez o segredo esteja em aceitar o silêncio como parte da composição, em entender que é no indizível que repousa a verdadeira arte da existência. Pois o fim de um livro não apaga o que foi lido, assim como a morte não apaga a vida. Tudo permanece, vibrando no espaço entre as palavras, naquele resquício de sentido que nunca pode ser completamente dito – mas que sempre pode ser sentido.
Oliver Harden
Subscrito
Bonani
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