Abrir mão é um grande aprendizado. Abra mão. Deixe a areia escoar entre os dedos, não tente segurá-la. Permita que o vento leve as plantas sem raiz, como o fluxo do rio carrega detritos, a natureza absorve os corpos e os transforma em outra coisa. Como o tempo que leva a juventude em troca de sabedoria, as experiências sobrepondo-se, alterando cenários, recolocando-nos em novas perspectivas. É preciso saber abrir mão! Fazer como o corpo que se refaz enquanto células renovam, a primavera que chama o verão, o verão cede vez ao outono, o outono, amigo do inverno, nada fica, o tempo que vem, o tempo que vai. Nenhum segundo se mantém, fragmento de tempo chamado agora, jamais se fixa; um segundo, depois outro, e outro de novo. Abrir mão da imagem, do vigor, da reputação, da saúde que o tempo um dia leva. Abrir mão dos que vão, dos dias que não ficam, das memórias que se apagam. Como o dia que apaga e vem a noite. A noite termina, abre mão do silêncio e vem o sol anunciando que el