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"A Idiota Presunção do Ser"

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  O Colapso da Ilusão e a Revelação do Vazio A consciência da própria nulidade não nasce do mero desconhecimento, mas do instante em que o simulacro se rompe e aquilo que se julgava substância revela-se sombra. O verdadeiro horror não é a ignorância pura, mas o súbito reconhecimento de que tudo o que se tomava por essencial era apenas reflexo projetado na superfície da existência. A tragédia humana não é o não saber, mas o saber demasiado tarde que o que se possuía era nada, e que a própria identidade, sustentada por frágeis ornamentos, era um castelo de areia erguido sobre a indiferença do tempo. Desde sempre, o homem buscou refúgio na aparência, fabricando máscaras para camuflar a vertigem da inexistência. Constrói-se sobre títulos, consome símbolos, modela gestos e palavras como se pudesse moldar, a partir da matéria etérea do olhar alheio, uma identidade perene. Mas toda aparência tem um preço, pois quanto mais se adorna a fachada, mais se deserta do interior. Eis a ironia supr...

"O Grito e a Cartase Existencial"

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  A insondável complexidade da psique humana revela-se como um labirinto intricado de emoções, desejos e tormentos, que se entrelaçam nas regiões mais recônditas do espírito. A pintura O Grito, de Edvard Munch, erige-se como uma manifestação pungente e visceral do desespero, uma expressão artística que transcende a materialidade da tela para ecoar nas mais profundas câmaras da alma humana. Diante dessa obra, somos convocados a refletir sobre a precariedade da existência, a angústia inerente à consciência e a fragilidade do ser perante o caos do mundo e o vazio do desconhecido. O grito que emana da figura central da composição não é um som audível, mas um clamor existencial que ressoa nos confins do inconsciente coletivo. O expressionismo de Munch, caracterizado por seus contornos disformes e sua paleta cromática vibrante, não busca uma representação mimética da realidade, mas a evocação de um estado psíquico profundo, de uma angústia que se inscreve não apenas no rosto distorcido ...

"Ressignificar Nossas Memórias"

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 O texto abaixo faz parte do entendimento que tenho nas questões das complexidades da alma(psique). A memória humana, em sua essência, é um território subjetivo e emocional, mais próximo de uma obra em constante reconstrução do que de um registro objetivo dos fatos.  Nesses últimos tempos,tenho me debruçado nessas questões. O que chamamos de lembrança não é uma reprodução fiel daquilo que aconteceu, mas uma recriação moldada pelas emoções, pelas interpretações e pelas lacunas que o tempo inevitavelmente escava em nossa mente. Assim, o passado que carregamos conosco não é o evento em si, mas o reflexo íntimo das sensações que ele evocou em nós. E é exatamente por isso que a memória pode ser, ao mesmo tempo, uma dádiva e uma maldição. O caráter emocional da memória a torna mais viva, mas também mais tirânica. Quando revisitamos certos momentos, não estamos meramente contemplando imagens neutras; estamos, na verdade, reativando as emoções que aqueles instantes despertaram. Essa r...

Salmos 118:24 e "O Eterno Agora"

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Este é o dia que fez o Senhor; regozijemo-nos, e alegremo-nos nele. Salmos 118:24 E daí se o amanhã me reservará a dor ou, quem sabe, o êxtase da felicidade? Se serei açoitado pelo infortúnio ou abraçado pelo triunfo, nada disso me concerne, pois o futuro, esse território abstrato e volátil, não me pertence. Nem mesmo sei se a própria existência suportará minha presença até o instante seguinte—o amanhã é um horizonte demasiado longínquo para que eu o mire com devoção. Prefiro consumir-me no que vejo, no que meu pensamento pesa e desenha sobre o mundo. Dilapidar a alma no passado morto é tão vão quanto hipotecá-la a um futuro incerto, cuja substância é feita da poeira dos devaneios humanos. O tempo, esse artífice impassível, não se detém em lamentos nem se compadece de esperanças vãs. O instante que pulsa é vasto o suficiente para que nele eu me perca e me reencontre. Não me deixo seduzir pelo desejo vão de sondar o que resta do homem quando a linguagem se exaure, nem desperdiço a preci...

A influência Árabe na Língua Portuguesa.🇵🇹

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  O Português é uma língua derivada de dialectos latinos, românicos peninsulares que resultaram da mistura do “latim vulgar”, falado pelos soldados romanos, com os dialectos locais existentes na Península Ibérica à data da sua ocupação.  O Português, primitivamente Galaico-português, formou-se directamente a partir do Leonês ou Asturo-Leonês, e tem como substrato a língua nativa dos Galaicos, Lusitanos, Célticos e Cónios. O Português sofreu inevitavelmente a influência da Língua Árabe, influência que ultrapassa em muito a extensão que a maioria dos autores referem, não só em termos de “marca” no seu léxico, como da própria forma como se opera. Adalberto Alves, no seu “Dicionário de Arabismos na Língua Portuguesa”, esclarece que a influência da língua Árabe, para Alem dos seus aspectos evidentes ou visíveis, ou seja, do léxico Árabe directamente transposto para o português, deve considerar todos aqueles que chegam ao português de forma “encapoçada”, através da tradução de texto...

"O Caçador de Histórias"

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 "Teu Deus é judeu,  a tua música é negra,  o teu carro é japonês,  a tua pizza é italiana,  o teu gás é argelino,  o teu café é brasileiro,  a tua democracia é grega,  os teus números são árabes, as tuas letras são latinas.⁣ Eu sou teu vizinho. E ainda me chamas estrangeiro?⁣" ⁣ Eduardo Galeano, em "O Caçador de Histórias"⁣ Subscrito  Bonani

"Momentos Imensos e Intensos"

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Os momentos, vastos em sua voracidade, carregam em seu seio a dualidade da nostalgia e da decepção, como se o tempo trouxesse consigo o peso de uma ausência a ser preenchida, um vazio que clama por um sucedâneo de si mesmo. São instantes que, em sua intensidade imensurável, me arremessam a desconcertos quase sublimes, obrigando-me a contemplar o caos e a harmonia que coexistem na trama da minha existência. Por vezes, sinto-me como um ser errante, destituído de rumo, incapaz de apreender os mistérios do universo que me circunda. Contudo, não há na barafunda de minha vida ausência de significado; pelo contrário, algo ressoa, um eco profundo e inexplicável que reverbera entre os labirintos de meu ser. Em minha mente, há sempre um turbilhão de imagens, como anjos alados de Giotto, suspensos na abóbada azul de uma igreja em Pádua, ao lado do espectro de Hamlet e da pálida Ofélia coroada pela desventura, símbolo eterno das mágoas e incompreensões que atravessam o mundo. Há momentos em que a ...