"A Idiota Presunção do Ser"
O Colapso da Ilusão e a Revelação do Vazio
A consciência da própria nulidade não nasce do mero desconhecimento, mas do instante em que o simulacro se rompe e aquilo que se julgava substância revela-se sombra. O verdadeiro horror não é a ignorância pura, mas o súbito reconhecimento de que tudo o que se tomava por essencial era apenas reflexo projetado na superfície da existência. A tragédia humana não é o não saber, mas o saber demasiado tarde que o que se possuía era nada, e que a própria identidade, sustentada por frágeis ornamentos, era um castelo de areia erguido sobre a indiferença do tempo.
Desde sempre, o homem buscou refúgio na aparência, fabricando máscaras para camuflar a vertigem da inexistência. Constrói-se sobre títulos, consome símbolos, modela gestos e palavras como se pudesse moldar, a partir da matéria etérea do olhar alheio, uma identidade perene. Mas toda aparência tem um preço, pois quanto mais se adorna a fachada, mais se deserta do interior. Eis a ironia suprema: ao tentar se afirmar, o homem se aliena de si mesmo, e ao acumular signos de grandeza, torna-se escravo de uma imagem que não lhe pertence.
Então, o despertar chega, e com ele a revelação terrível: a idiotia não é o erro do intelecto, mas a falha do ser. O termo idiotes, herdado dos gregos, descreve aquele que habita o próprio engano, encerrado em um domínio privado onde o real jamais entra. O idiota acredita deter algo quando, na verdade, apenas ocupa um espaço, carregando consigo um nome que é repetido, mas jamais vivido. A descoberta da própria vacuidade é um choque existencial, pois exige o reconhecimento de que o prestígio é eco, que o poder é transitório e que toda validação externa é uma moeda que desvaloriza no tempo.
Contudo, há uma estranha redenção nesse colapso. Quando a última máscara cai e nada mais resta senão o que somos sem testemunhas, nasce a possibilidade do real. O desmoronamento da aparência não é um fim, mas um portal para a autenticidade — pois apenas aquele que aceita sua miséria essencial pode, enfim, erguer algo que não dependa de ornamentos. A liberdade não está na acumulação de ilusões, mas no abandono delas. E quando o último olhar externo se apaga, quando a última aprovação se esvai, resta apenas a verdade silenciosa — aquela que não precisa de aplausos, pois sobrevive mesmo quando ninguém está olhando.
Subscrito
Bonani
Comentários
Postar um comentário
Escreva aqui seu comentário e enriqueça ainda mais o Blog com sua participação!