A Tragédia Da Aparência
A Tragédia Da Aparência
A existência moderna dissolve-se em uma teatralidade incessante, onde o indivíduo já não é sujeito de sua própria narrativa, mas ator submisso a roteiros alheios, inscritos nos códigos da sociedade do espetáculo. O ser, outrora núcleo inviolável, desdobra-se agora em máscaras, cada uma meticulosamente ajustada para satisfazer as exigências de um público invisível, mas onipresente.
Nesta dinâmica, a autenticidade é renegada ao plano do anacrônico, quase como uma relíquia indesejada, incompatível com as demandas de uma era que idolatra a projeção. O eu interior, carregado de complexidades e contradições, torna-se incômodo; é mais simples vesti-lo com a transparência maleável das convenções do mercado ou da estética digital.
Esse deslocamento, além de filosófico, é profundamente ético, pois questiona a relação do ser humano com sua própria liberdade. Quando a existência é subjugada à representação, o espaço para a singularidade desaparece. Resta apenas a conformidade, um eco vazio do ideal iluminista de autonomia. O paradoxo reside na liberdade aparente, na ilusão de escolha entre as múltiplas máscaras oferecidas, quando todas, em última análise, conduzem ao mesmo lugar: a alienação de si.
E, assim, o sujeito contemporâneo caminha, não para frente, mas em círculos, refém de narrativas alheias e da incessante necessidade de validação externa. A pergunta que ecoa, desafiadora, é: ainda há espaço para o resgate da essência em um mundo que fez dela um vestígio inconveniente? Ou estaremos, como Narciso, eternamente fascinados pela superfície que reflete apenas o que desejamos aparentar, jamais o que realmente somos?
Oliver Harden
Subscrito
Bonani
O texto além de belo e bem elaborado, rico em informações... impele--nos, sobretudo, a pensar com mais profundidade e atenção na sociedade contemporânea, exacerbadamente ANTROPOCÊNTRICA, COMPETITIVA, MERITOCRÁTICA, EGOÍSTA e INFELIZ!
ResponderExcluirO artigo, instiga-nos a refletir seriamente nessas questões da APARÊNCIA, em detrimento da REALIDADE; entre o que é e o quê NÃO É; o que é e o quê se pensa ser, apontando para o ABISMO que os separa, entre: o IMAGINÁRIO e o REAL!!!