Big Brother. Do vazio para o vazio
Há uma parte da população que passa horas a ver Big Brother como quem vigia um aquário: rostos presos numa rotina de nada, gestos repetidos, discussões vazias transformadas em espetáculo nacional. É uma escolha fácil, quase automática — uma fuga cómoda à exigência de pensar, sentir, questionar. Como se a vida alheia, reduzida a fragmentos de drama barato, pudesse preencher o vazio que cada um evita enfrentar dentro de si. E o que acrescenta isto a quem vê? Pouco mais do que uma sensação provisória de pertença, uma ilusão de importância no ato de julgar outros. É uma espécie de anestesia social: distrai, ocupa, mas não transforma. Alimenta-se da curiosidade mais básica e devolve apenas um espelho baço onde todos parecem iguais — cansados, previsíveis, desligados da própria consciência. E o que diz isto sobre nós? Diz que vivemos num tempo em que observar vidas vazias é mais fácil do que preencher a própria. Diz que a superficialidade ganhou lugar de culto. Diz que o público procur...