Quem somos quando nada mais dura?
Vivemos tempos líquidos - dizia Bauman, e essa liquidez não é apenas uma metáfora bonita, mas um diagnóstico do modo como tudo escorre por entre os dedos. Nada mais permanece. Relações, valores, identidades, até os sonhos... tudo se dissolve na velocidade com que deslizamos a tela do celular.
A modernidade líquida é o império do instantâneo. O amor precisa ser rápido, o prazer imediato, o sofrimento breve. Somos ensinados a trocar antes de consertar, a seguir em frente antes de compreender, a desejar sem sequer saber o que realmente queremos. E nessa busca por liberdade total, acabamos prisioneiros de um vazio que nos consome em silêncio.
Bauman nos alerta: a liquidez prometia leveza, mas trouxe instabilidade. O que antes era chão, hoje é areia movediça. O eu tornou-se um projeto inacabado, constantemente refeito conforme a moda, a opinião ou o algoritmo. A fluidez virou disfarce para o medo - medo do compromisso, da perda, da entrega.
Mas talvez a pergunta mais profunda que essa modernidade nos impõe seja: quem somos quando nada mais dura?
Se o amor é descartável, o trabalho é precário, a identidade é mutável e o sentido é volátil, o que resta como base? Talvez reste apenas o instante - o agora - e a coragem de habitá-lo com presença, mesmo sabendo que ele vai passar.
A liquidez não precisa ser condenação. Pode ser convite. Convite a dançar com o tempo, a aceitar a impermanência, a amar mesmo sem garantias. Mas só será libertadora se formos capazes de sustentar o vazio sem preenchê-lo com distrações.
Porque, no fim, o problema não é que tudo muda - é que esquecemos de mudar com consciência.
Subscrito
Bonani

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