Espiritual ou Egolatra?
"...A espiritualidade autêntica não se impõe. Não se coloca acima. Não precisa provar que sabe, nem ensinar quem não pediu para aprender. Cresce em silêncio, amadurece em presença, reconhece que ninguém caminha por dentro do outro. O verdadeiro caminho espiritual não acusa, não corrige, não culpa. Acompanha.
Há quem confunda espiritualidade com iluminação pessoal. Fala de luz, mas lança sombra. Fala de cura, mas fere. Usa a fé como argumento de autoridade, como se tivesse descoberto a única forma válida de viver, de sentir ou de entender a dor. Mas quando a espiritualidade se transforma em certeza, deixa de ser espiritualidade. Passa a ser ego. Um ego sofisticado, vestido de boas intenções, mas ainda assim ego.
A espiritualidade verdadeira não afasta a medicina, não despreza a ciência, e não transforma a doença numa falha interior. Sabe que o ser humano é corpo, alma, espírito, história, genética, circunstância e mistério.
Há sofrimentos que não se explicam, nem se resolvem com frases bonitas. Só se acompanham. Não com fórmulas, mas com cuidado.
Já vi pessoas a usarem o discurso espiritual para justificar distâncias, culpar fragilidades, apontar dedos a quem sofre. No fundo, usavam a espiritualidade não para amar, mas para se protegerem da dor dos outros. Não queriam tocar nessa dor. Queriam controlá-la.
A verdadeira espiritualidade não controla. Aproxima. Não quer ter razão. Quer ter compaixão. Não diz eu sei. Diz, estou a aprender.
Quando a espiritualidade amadurece, deixa de ser palco. Torna-se presença silenciosa.
E talvez essa seja a forma mais honesta de iluminar: sem querer mostrar luz, mas simplesmente escolhendo não ferir."
Filipe Bacelo
Subscrito
Bonani

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