Ineptos Digitais
O desfile dos ineptos digitais, desabafo de um navegante fatigado
Percorro a tela com o indicador fatigado, como quem tateia um mundo cada vez mais saturado de presenças ociosas. Não busco nada em especial, talvez uma centelha de lucidez, um fragmento de cultura, uma ideia que valha o peso da minha atenção. Mas em cada clique e em cada deslizar de tela que dou, esbarro inevitavelmente em um espetáculo grotesco, o do inepto desesperado por ser notado, por lucrar rapidamente, por converter sua insignificância em mercadoria viral. E tudo isso sem talento, sem substância, sem sequer o mínimo de inteligência exigida para que se sustente, ainda que por segundos, no palco improvisado da internet.
Confesso, há algo tragicômico nesse desfile ininterrupto de nulidades performáticas. São homens e mulheres que, desprovidos de qualquer elaboração estética, filosófica ou mesmo ética, se apresentam ao mundo com uma confiança que beira o messiânico. Não dizem nada, não pensam nada, não criam nada, mas repetem fórmulas baratas, frases vazias, danças estereotipadas, indignações simuladas, tudo ao gosto do algoritmo. O vazio, hoje, tem coreografia.
É como se estivéssemos diante de uma espécie de darwinismo invertido, em que a sobrevivência do mais apto cedeu lugar à exibição do mais ruidoso. Já não importa a qualidade do conteúdo, mas a capacidade de chamar atenção em um mar de estímulos concorrentes. O que se premia não é a ideia, é o engajamento. E o engajamento se compra com escândalo, com vulgaridade, com a caricatura de si mesmo. A internet, esse espelho deformado da alma humana, tornou-se o habitat ideal da mediocridade atrevida.
O mais inquietante, contudo, não é a existência desses personagens, sempre houve bufões e farsantes, mesmo nos salões mais nobres da história. O que espanta é a audiência silenciosa e cúmplice, que consome, compartilha, e com isso legitima. Há algo de decadente nessa fome coletiva por distrações rasas, como se estivéssemos todos tentando escapar do peso de existir através de uma comédia infeliz. E quanto mais ruído se faz, menos ouvimos o que realmente importa.
Às vezes me pergunto se o problema é deles ou nosso. Se não estamos todos nós, em alguma medida, cedendo ao apelo da idiotia contemporânea, essa que disfarça ignorância de autenticidade, arrogância de opinião, vaidade de empoderamento. Vivemos em um mundo onde se tornou suspeito o silêncio, onde a hesitação crítica é vista como fraqueza, e a complexidade, como elitismo. O saber virou um estorvo, o pensar, um luxo obsoleto.
Diante disso, sigo deslizando a tela como quem procura ar em um ambiente rarefeito. E quando encontro, por acaso, uma linha bem escrita, uma ideia bem articulada, um gesto de genuína criatividade, experimento um alívio semelhante ao da sede saciada. Mas é raro. Raríssimo. A maioria do que vejo é apenas o eco de uma humanidade que parece ter abdicado de seu espírito em nome da visibilidade.
Fecho o aplicativo. O silêncio que se instala me parece mais digno do que aquele tumulto disfarçado de conteúdo. E me dou conta de que, nesse tempo de espetáculo contínuo, o maior ato de resistência é recusar o aplauso fácil. É dizer não à farsa. É continuar pensando, mesmo quando ninguém mais escuta.
Oliver Harden
Subscrito
Bonani
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