Geração Brilho da Superfície

 


Vivemos em uma época em que o brilho da superfície seduz mais do que a densidade da substância. A idolatria contemporânea, em vez de nascer da admiração lúcida pelo mérito, pela obra ou pela integridade de um indivíduo, parece brotar de uma adesão automática, quase maquinal, que não exige reflexão. Os ídolos de hoje não são erguidos pelo peso da autenticidade, mas pelo poder da repetição, da imagem incessantemente projetada e consumida.


A juventude, em especial, imersa em fluxos de informação e estímulos visuais, tornou-se presa de uma lógica em que o invólucro vale mais do que o núcleo. A embalagem, seja ela a aparência física, a retórica sedutora ou a aura digital cuidadosamente fabricada, suplanta o conteúdo, que quase nunca é questionado. Não se pergunta se há coerência entre discurso e prática, entre promessa e ação. A ausência de pensamento analítico e crítico conduz a um cenário em que o efêmero se confunde com o essencial, e o simulacro substitui a verdade.


Guy Debord, ao falar da “sociedade do espetáculo”, já havia diagnosticado que a realidade se dissolve em representações, em imagens que se tornam mais reais que a própria vida. O espetáculo cria ídolos que não necessitam de virtudes, mas apenas de visibilidade. A juventude, ao aderir a esse jogo sem o filtro da razão, aceita passivamente que a relevância de alguém seja medida por números de seguidores, curtidas e tendências, como se a verdade pudesse ser contabilizada.


Essa lógica não se restringe apenas à cultura pop ou às redes sociais, mas também contamina a política, a educação e a vida cotidiana. Compra-se o produto pela embalagem, consome-se a imagem sem sequer desconfiar da vacuidade do conteúdo. É um culto que exige pouco, mas cobra caro, a renúncia à autonomia do pensamento. Pois pensar exige esforço, exige tempo, exige a coragem de discordar, virtudes raras em uma era que prefere a velocidade ao discernimento.


Assim, a idolatria moderna revela-se menos como admiração legítima e mais como submissão inconsciente. O verdadeiro perigo não está apenas no surgimento de ídolos frágeis, mas no enfraquecimento das consciências que os sustentam. Quando a juventude se deixa conduzir pelo brilho da superfície, abre mão da liberdade de julgar por si mesma. E, sem liberdade interior, não há pensamento digno de se chamar pensamento.


Oliver Harden

Subscrito 

Bonani

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

"IGREJA.PALMEIRA E O EXEMPLO DE DÉBORA!"

δύναμις e ἐξουσία em Atos 1:8 (leia para entender)

AMIZADE: “PURÁ É A PURA!”