Ágabo, uma profecia com dois pequenos erros - (Proposta para uma Exegese)

 

O tema acima parece propôr uma contradição, visto que,  está em questão se a profecia em causa está isenta de equivocos ou não. Foi postada em um  blog muito conceituado e com  uma pitada de perspicacia  e ironia saudável e leva- nos a refletir sobre textos de dificil interpretação. Entretanto é necessário aplicar os meios corretos de uma boa exegese bíblica. O autor da matéria, no uso de seus conhecimentos, leva-nos a exercitar nossa faculdade interpretativa. Vamos aproveitar esta oportunidade para fazermos um exercício exegético, tendo em conta que as implicações interpretativas, nesse caso ,a exegese, como todo saber, tem práticas implícitas e intuitivas. Segue então abaixo a exposição do tema proposto e logo a seguir uma refutação que fiz ao texto. Tenha em conta que é uma leitura exaustiva, porém, necessária para elucidação.Vamos então a ele! 

      Ágabo, uma profecia com dois pequenos erros

  

Parece que existem dois fatores conflitantes nessa passagem. Por um lado, a frase introdutória de Ágabo – “Assim diz o Espírito Santo” – sugere uma tentativa de falar como os profetas do AT que diziam: “Assim diz o Senhor…”.

Por outro lado, porém, os acontecimentos da própria narrativa não coincidem com o tipo de precisão que o AT exige daqueles que falam as palavras de Deus. Na verdade, pelo padrão do AT, Ágabo teria sido considerado como falso profeta, porque em Atos 21.27-35 nenhuma de suas previsões é cumprida.
Em primeiro lugar, Ágabo predisse que os judeus de Jerusalém “amarrariam” Paulo (At 21.11; a palavra grega traduzida por “amarrar” é deo). Contudo, quando Paulo foi efetivamente capturado em Jerusalém, mais tarde no mesmo capítulo, Lucas nos diz duas vezes que não foram os judeus, mas os romanos que amarraram Paulo: “O comandante chegou, prendeu-o e ordenou que ele fosse amarrado com duas correntes” (At 21.33).
Em segundo lugar, o “erro” da profecia de Ágabo refere-se ao segundo detalhe predito: o fato de que os judeus “entregariam” Paulo nas mãos dos gentios. Aqui, a palavra grega para entregar é paradidomi, que significa “dar voluntariamente, passar às mãos”. O ponto essencial do sentido dessa palavra é a idéia de “entregar”, “doar” ou “passar às mãos” de maneira ativa, consciente e proposital alguma coisa a alguém – esse é o sentido que aparece nas outras 119 ocorrências dessa expressão no NT.
A palavra paradidomi é usada, por exemplo, quando Judas “entregou” Jesus nas mãos dos líderes judeus (Mt 26.16); quando os judeus “entregaram” Jesus nas mãos dos romanos (Mt 20.19); quando João Batista foi “entregue” à prisão (Mc 1.14); quando Moisés “entregou” as leis ao povo (At 6.14); quando Paulo “entregou” ensinamentos à igreja (1Co 15.3). Nenhum dos outros 119 exemplos do uso dessa palavra no NT deixa de usar a idéia de uma ação consciente e intencional feita por quem faz a entrega.
Lucas na narrativa que se segue à profecia de Ágabo, ele mostra que os judeus não “entregaram” Paulo nas mãos dos gentios. Em vez de deliberadamente “passar Paulo às mãos” dos gentios – como os judeus haviam feito com Jesus, por exemplo, os próprios judeus tentaram matá-lo (At 21.31). Paulo precisou ser forçosamente resgatado dos judeus pelo tribuno romano e seus soldados (At 21.32,33). Mesmo assim, a violência do povo era tão grande que ele precisou ser carregado pelos soldados (At 21.35).
É importante notar que Lucas não tem intenção de mostrar que Ágabo proclamou uma profecia imprecisa. Essas palavras são apenas detalhes, alguém poderia dizer. Contudo, tal explicação não leva em conta de maneira plena o fato de que esses são os únicos dois detalhes que Ágabo menciona – em termos de conteúdo, eles são o cerne de sua profecia. De fato, esses detalhes são o que fazem dessa predição algo incomum. Provavelmente qualquer pessoa que soubesse de que maneira os judeus, por todo o Império Romano, haviam tratado a Paulo em várias cidades poderia ter “predito”, sem qualquer revelação do Espírito Santo, que Paulo enfrentaria violenta oposição dos judeus em Jerusalém. 
O aspecto singular da profecia de Ágabo foi sua predição de que Paulo seria “amarrado” e “entregue nas mãos dos gentios”. Nesses dois elementos básicos, ele estava um tanto equivocado.
Pr. Marcello Oliveira

                                                                                              REFUTAÇÃO 
Se me parece, a postagem em apreço se detém em demasia na tentativa de uma extrema compreensão literal das “narrativas lucanas” registradas nos eventos sobre a profecia de Ágabo. Não querendo entrar em detalhes sobre a “economia de Deus” na forma e na fórmula em que se deve portar o profeta, se é em nome do Senhor, ou em nome do Espírito Santo, visto que no cap.13 de Atos é o próprio Espírito Santo que fala e separa, e creio, usando como porta voz algum dos profetas ali presentes, que na hierarquia do texto, estão alistados em primeiro plano naquele evento!
Gostaria entretanto de deixar minha humilde opinião, esperando que ela possa elucidar alguma dúvida acerca da profecia de Ágabo.
A “holística” pertence e refere-se ao holismo, que é uma tendência ou corrente que analisa os fenómenos do ponto de vista das múltiplas interações que os caracterizam. O holismo considera que todas as propriedades de um sistema não podem ser determinadas ou explicadas como a soma das suas componentes. “Holos”- (um termo grego que significa “todo” ou “inteiro”) alude a contextos e complexidades que se relacionam entre si, pelo facto de ser dinâmico.
Na abordagem holística, o todo e cada uma das partes encontram-se ligados com interacções constantes e consoantes. Como tal, cada acontecimento está relacionado com outros acontecimentos, os quais produzem entre si novas relações e fenómenos num processo que compromete o todo.
Gostaria de abordar um pouco mais profundamente o texto partindo deste pressuposto acima descrito,que não é menos importante em relação aos alegados equivocos que aparentemente parecem existir no texto de Atos 21. Ei-los:
1º Pressuposto- Testemunho presencial -«não há nada melhor que um testemunho presencial», argumentando que este «é muito mais esclarecedor, é muito mais informativo, permite o contraditório e a controvérsia no momento e pode clarificar os detalhes e equivocos deixados pelo testemunho oral. Vejamos: O local do evento onde se dá a profecia é a casa do evangelista Felipe,e a narrativa do texto está na 1ª pessoa-(Fomos…). Temos aqui configurado a presença de Lucas, o escritor dos textos de Atos dos Apóstolos, e sendo assim é testemunha presencial da profecia e a registra nesta ótica testemunhal!
2º Pressuposto-Testemunho oral- Ao contrário da primeira narrativa, Lucas, mesmo sendo ele quem escreve o episódio da prisão de Paulo, não está presente nos eventos que se desenrolaram no templo em Jerusalém ,e, nem tão pouco, parece-me que o próprio evento deixa transparecer a possibilidade de se ater aos mínimos detalhes que circunscrevem a profecia, haja visto que, o que me parece: Lucas recebe a narrativa pelo testemunho oral e naquele momento o desafio é centrar o papel do “indivíduo na história”, e não se ater a detalhes que “ocultos no texto” poderiam ter “acontecido no contexto!” Imaginemos todo o transtorno causado naquele momento, onde uma multidão acalorada tenta calar Paulo. É natural que detalhes fiquem ser ser observados e poderiam não ter tanta “relevância detalhista” para os protagonistas quanto para nós hoje que nos atemos a dissecar o texto com ecesso de preciosismo acadêmico.
O academismo é importante, porém, quando levado ao pé da letra pode mecanizar e engessar em demasia o que realmente o texto quer dizer!
3º Pressuposto- Compreensão contextual- Há de se ter cuidado quando nos atemos na literalidade academica da letra, no caso, o uso do grego . Deve-se ter em conta o contexto do evento e suas implicações. Por exemplo: Ágabo na profecia esboça mais atenção ao dono do cinto, fazendo deste acessório tão somente a peça denunciante na qual , de alguma forma, o dono de tal cinto teria sua liberdade “cerceada”, que pode ser entendida também como “amarrada” pela influência de duas classes distintas de pessoas, isentando assim a profecia da literalidade da letra, mas, por sua vez, leva-nos a olhar na holística de todo o evento!
Espero ter contribuído para acalorar  mais ainda a reflexão!

BONANI


Comentários

  1. Shalom!

    Amado Pr Bonani, quero agradecer seu carinho bem como suas palavras de apreço e distinção no tocante ao meu site. O sr sempre será bem vindo naquele espaço. O Eterno frutifique ainda mais seu ministério. Colossenses 1.9,10

    Um abraço fraterno, Pr Marcello Oliveira

    www.davarelohim.com.br

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