"JÓ NA MAQUINA DO TEMPO!"-(O ARCAICO VOCABULO KESSITA (קְשִׂיטָה) )
O ARCAICO VOCABULO KESSITA (קְשִׂיטָה) EM JÓ
Alguém disse: “Esteticamente falando, Jó é a produção literária suprema do gênio dos hebreus.” O Livro de Jó se constitui em um milenar desafio de análise conceitual para todos os estudiosos da Bíblia, especialmente na determinação de data e autoria, não obstante a maioria tenha a consciência de tratar-se de um livro antiguíssimo, mas de conteúdo atual nas questões existenciais humanas da dor, da paciência, dos sofrimentos humanos, das provações, da inconveniência de certos amigos que, como lembra Mesquita, segundo as palavras do erudito Vieira são “certos amigos que não são amigos certos”.
O livro apresenta fortes questionamentos teológicos como: o sofrimento do justo e a prosperidade do ímpio? Concílio no Céu – prestação de relatório dos anjos e a presença de Satan? A Soberania de Deus e o uso de Satan como instrumento? A perene questão do problema do mal e muitas outras.
Entretanto, o propósito, no momento, é o de concentrar-se um pouco no conteúdo antiguíssimo do identificado “Livro de Jó” na dimensão dos episódios patriarcais, pois o mesmo não é ficção; é, sim, realidade da vida, começando pela sua terra de Uz, perto de Edom e do deserto da Arábia.
Pode-se, num primeiro momento, excluir o panorama geral do Livro de Jó de qualquer ligação com a Legislação Mosaica, a julgar pela extensão dos seus 42 capítulos que não apresentam nenhuma referência a um pormenor que seja da Lei de Moisés, da Torá. Veja-se, também, a ausência de citação dos templos (1º e 2º), dos profetas ou, ainda, do sacerdócio levítico. A exclusão desses importantes pontos, fatalmente, coloca os acontecimentos do Livro de Jó nos tempos da Era Patriarcal. É relevante lembrar que, por força do casamento de Moisés com a filha de Jetro, vem à tona a figura deste homem piedoso que foi até mesmo conselheiro de Moisés em questões administrativas (Êxodo 18:19), evidenciando que, mesmo antes da Lei de Moisés e da figura imprescindível dos Profetas, havia muitos homens piedosos, como o próprio Jetro, sacerdote de Mídiã (Êxodo 18:1) comprometidos com Deus: “Alegrou-se Jetro de tudo que o Senhor fizera a Israel... e disse: Bendito seja o Senhor, que vos livrou da mão dos egípcios e da mão de Faraó (v.9). “Jetro tomou holocausto e sacrifícios para Deus” (v.12). E Jó foi pai-sacerdote em sua própria casa (Jó 1:5).
Quando se cogita sobre a autoria do Livro de Jó, não obstante a citação de diversos e possíveis nomes, prevalece Moisés. Ora, em priscas eras bíblicas, o homem que inventou o alfabeto, “formado em toda cultura e ciência do Egito” (Atos 7:22), estava mesmo preparado para, debaixo da potente mão de Deus, escrever o magistral e maior poema de todos os tempos! O intelectual e General Moisés, sempre voltado à cultura, exilado nas terras de Midiã por 40 anos, elaboraria esta obra-prima como bem sugere o Talmude Judaico.
O uso do arcaico vocábulo “Kessita” (קְשִׂיטָה), no livro de Jó (42:11b), coloca-o antes do uso de ‘Ciclo’ (salvo Gên. 33:19/heb.), ou melhor, “Shékel” (שֶׁקֶל), como em Gênesis 23:15-16, dito no hebraico: אַרְבַּע מֵאוֹת שֶׁקֶל כֶּסֶף (‘arbáh meót shékel késsef) - “quatrocentos shekel de prata” (Shekel é a atual moeda corrente de Israel, vindo, em seguida, o dólar).
O Texto de Jó 42:11b diz: “cada um lhe deu dinheiro e um anel de ouro”. O hebraico diz:
וַיִּתְּנוּ־לוֹ אִישׁ קְשִׂיטָה אֶחָת וְאִישׁ נֶזֶם זָהָב אֶחָד (fonética: “Va-Itenú ló ish KESSITA eHat vê-Ish nézem zahav eHad”. Tradução: “E deram (cada pessoa) a ele uma Kessita (moeda) e um brinco de ouro” (nézem/נֶזֶם, brinco; e anel é tabaat/טַבַּעַת! A Vulgata Latina traduziu certo: inauris (inaurem), brinco; e, erradamente, traduziu “Kessita” como ovelha (oviles, ovem)! A Septuaginta Grega indica (τετράδραχμον) ‘tetradrakmon’, “quatro moedas de prata.” É interessante observar que foram doados elementos caríssimos, mesmo sendo uma unidade, pois visavam a ajudar a dobrar a riqueza de Jó. Os doadores: irmãos, irmãs e “todos quantos dantes o conheceram”!
A antiguíssima e, até certo ponto, desconhecida moeda dos antigos tempos bíblicos, a Kessita, caracteriza muito o mundo antigo das cenas do Livro de Jó de era até mesmo Pré-Patriarcal.
Bonani
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