"Entender o Salmos 118:24 parafraseado numa história real"



Este é o dia que fez o Senhor; regozijemo-nos, e alegremo-nos nele.  Salmos 118:24

O homem que guardou a vida inteira numa caixa. quando abri essa caixa depois da morte dele, meu coração se partiu e eu entendi o maior erro que um ser humano pode cometer...

Meu tio Maurício era o homem mais disciplinado que já conheci. Trabalhou 42 anos na mesma metalúrgica em São Caetano do Sul. Era o primeiro a bater ponto e o último a sair. Economizava cada centavo. Não tirava férias "pra não gastar à toa". Não trocava de carro "porque o velho ainda anda". Não ia em festa de família "porque compromisso social é desperdício de tempo e dinheiro".

A filosofia dele cabia numa frase que ele repetia como mantra:

"Sacrifica agora. Aproveita depois."

Quando abri minha primeira loja, ele me chamou no porão da casa dele. Com solenidade de quem guarda uma relíquia sagrada, mostrou uma caixa de madeira envernizada, trancada a cadeado, coberta de poeira.

Destravou devagar. Abriu como se dentro houvesse algo explosivo.

Eram garrafas de vinho. Quatro delas. Importadas. Rótulos em francês que eu nem sabia pronunciar.

"Olha isso, sobrinho", sussurrou com a voz embargada de orgulho. "Essas garrafas custaram mais de quinze mil reais. Comprei com o décimo terceiro de 2005. São de uma safra lendária. Château Margaux. Especialistas dizem que cada uma vale hoje mais de cinco mil dólares."

Meus olhos arregalaram.

"Caramba, tio! E quando a gente vai abrir?"

Ele fechou a caixa num estalo seco.

"Abrir?! Você enlouqueceu? Isso não é pra dia qualquer, não. Isso aqui é pra Ocasião Especial. Tô guardando pro dia que eu me aposentar e comprar o sítio que sempre sonhei. Naquele dia, vou sentar debaixo de uma mangueira, abrir essas garrafas e beber uma a uma, celebrando que venci."

Aquela "Ocasião Especial" virou o motor da vida dele. Tudo era pra "esse dia".

O sítio. O descanso. A recompensa. O merecimento.

Passaram-se 11 anos.

Tio Maurício se aposentou aos 67 anos. A festa de despedida na metalúrgica foi linda. Ele chorou. Abraçou os colegas. Disse que finalmente ia viver.

Uma semana depois, enquanto assinava a escritura do sítio no cartório de Mogi das Cruzes, ele desabou.

AVC fulminante.

Morreu antes de chegar no hospital.

O velório foi silencioso, pesado. Mas o mais doloroso não foi o caixão. Foi entrar na casa dele depois do enterro pra recolher os pertences.

Desci ao porão.

A caixa de madeira continuava lá. Fechada. Intocada. Empoeirada.

A promessa não cumprida.

Decidi que aquele vinho não ia morrer junto com ele. Liguei pro meu pai, irmão do tio Maurício, e chamei meus primos. Nos sentamos na cozinha velha, ao redor da mesa onde ele comia sozinho todo dia depois que a tia faleceu.

"Vamos abrir por ele", eu disse, com a voz embargada. "Vamos celebrar a vida que ele viveu."

Peguei a primeira garrafa. Empoeirada. Pesada. Com um rótulo que parecia uma obra de arte.

Enfiei o saca-rolhas.

A rolha saiu quebradiça, ressecada, desintegrando em pedacinhos.

Servi cinco taças.

O líquido era turvo. Escuro demais. Com um cheiro estranho, azedo.

Levantamos as taças, chorando:

"Pelo tio Maurício."

Bebemos.

E cuspimos quase ao mesmo tempo.

Estava horrível.

Tinha gosto de vinagre. De podre. De morte.

O vinho tinha oxidado. Virado. Perdido toda a nobreza, todo o valor, toda a razão de existir.

Aquelas garrafas que um dia valeram uma fortuna agora não valiam nem o vidro.

Abrimos as outras três. Todas iguais. Estragas. Intragáveis.

Despejamos tudo na pia.

Ver aquele líquido escuro, caro, carregado de sonhos adiados, descendo pelo ralo... foi a coisa mais devastadora que já presenciei.

Meu primo Júlio, o mais velho, encostou as mãos na pia e começou a chorar.

"Ele fez isso com a vida dele", murmurou. "Guardou tanto pro depois... que estragou no durante."

Aquela frase me atravessou como uma lâmina.

Saí daquela casa e, pela primeira vez, entendi o que meu tio nunca entendeu:

A vida não é um ensaio geral pra uma estreia futura. É o espetáculo acontecendo agora, ao vivo, sem replay, sem segunda chance.

Naquela mesma noite, abri a garrafa de champanhe que eu guardava "pra quando a loja faturasse o primeiro milhão".

Vesti o terno que eu guardava "pra casamento importante".

Peguei minha esposa pela mão e fomos comer pastel na feira, numa terça-feira qualquer, usando a louça de porcelana que a sogra deu "pra ocasiões especiais".

Porque eu entendi, tarde, mas entendi:

Estar vivo hoje, respirando, com saúde, com quem você ama ao lado... já É a ocasião especial.

Jesus no  Evangelho ensina algo que meu tio nunca quis ouvir: "Por isso vos digo: Não andeis ansiosos quanto à vossa vida, pelo que haveis de comer ou pelo que haveis de beber; nem quanto ao vosso corpo, pelo que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o mantimento, e o corpo mais do que o vestuário?Olhai para as aves do céu, que nem semeiam, nem segam, nem ajuntam em celeiros; e vosso Pai celestial as alimenta. Não tendes vós muito mais valor do que elas?" Mateus 6:25,26. A Terra é escola, não sala de espera. Não viemos pra guardar experiências numa caixa trancada. Viemos pra viver, amar, errar, aprender, sentir. 

Cada momento que você adia por medo, por economia, por "não ser a hora certa"... é um momento que apodrece. Assim como o vinho do tio Maurício.

Quantas coisas você tem guardadas pra "algum dia"?

Aquele vestido com etiqueta?

Aquele perfume caro?

Aquela viagem que você vai fazer "quando os filhos crescerem"?

Aquele "eu te amo" que você não diz porque "ele já sabe"?

Aquele perdão que você vai pedir "quando o orgulho passar"?

Te digo uma coisa com o coração na mão:

Se você morrer amanhã, outra pessoa vai usar seu vestido, seu perfume, vai dormir na sua cama e vai viver a vida que você guardou pra depois.

Meu tio Maurício trabalhou 42 anos. Economizou cada centavo. Abriu mão de alegrias, de abraços, de risadas.

Morreu uma semana depois de se aposentar.

As garrafas que ele guardou por 11 anos viraram vinagre.

O sítio que ele comprou ficou vazio.

A vida que ele prometeu viver "depois"... nunca chegou.

E eu aprendi, da forma mais dolorosa possível:

"Algum dia" é o cemitério dos sonhos.

"Quando eu tiver tempo" é a desculpa dos mortos-vivos.

"Vou guardar pra ocasião especial" é o epitáfio de quem nunca viveu.

Hoje, eu uso o perfume caro na segunda-feira.

Abro o vinho bom pra comer pizza com a família.

Digo "eu te amo" todo dia, porque amanhã posso não estar aqui.

E toda vez que passo na frente daquela casa em São Caetano, olho pro porão e sussurro:

"Desculpa, tio. Eu entendi. Tarde. Mas entendi."

A vida não espera você estar pronto.

Ela acontece agora.

E se você não viver hoje, amanhã pode ser tarde demais.

Você tem algo guardado pra "ocasião especial"? Você acredita que a vida é pra ser vivida agora, ou você também está esperando um "depois" que pode nunca chegar?


Subscrito 

Bonani

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