A Véspera Imóvel

Como escreveu Fernando Pessoa, às vezes nos sentimos como “na véspera de não partir nunca”. A véspera imóvel Há dias em que nos encontramos na véspera de não partir nunca. Dias em que o tempo se dobra sobre si mesmo, criando um intervalo suspenso entre o que já foi e o que nunca será. Não há malas para arrumar, nem bilhetes para conferir, nem rotas a seguir. A partida, que um dia pareceu iminente, dissolve-se em uma quietude quase impessoal, como se o próprio mundo tivesse esquecido de nos convocar. É um estado peculiar, essa véspera sem destino. Não é a angústia do adiamento nem o alívio da chegada, mas um repouso sem entusiasmo, um intervalo onde o desejo de ir e a vontade de ficar se anulam mutuamente. Tudo parece estar decidido antes mesmo da escolha, como se já não houvesse necessidade de querer. Não partir nunca significa perder a urgência das despedidas e o sobressalto das chegadas. Significa olhar para o horizonte e vê-lo imóvel, sem promessas nem ameaças. Nenhuma e...