Gálatas 6:7 e a Advertência Sobre as Pulsões!

Pois o que o homem semear isso também colherá. Gálatas 6:7
A existência humana é uma sucessão de impulsos que se chocam contra a rigidez do real. Somos movidos por desejos, aqueles fogos breves que incendeiam a alma, consumindo-se rapidamente na experiência do presente. No entanto, embora o desejo seja efêmero, as suas consequências não compartilham da mesma transitoriedade. Uma decisão tomada no ímpeto de um instante pode reverberar pela eternidade, moldando destinos, corroendo consciências, esculpindo cicatrizes invisíveis no tecido da psique.


Freud já apontava para a natureza compulsiva do desejo, essa pulsão que brota do inconsciente e busca sua descarga imediata. O prazer, enquanto fenômeno, é breve; mas o que dele decorre pode transcender sua duração. Há nisso uma ironia fundamental: quanto mais instantâneo o desejo, mais permanente pode ser a sua marca. A história humana é repleta de exemplos trágicos desse paradoxo—guerras deflagradas por paixões momentâneas, traições cometidas em segundos e lamentadas por uma vida inteira, escolhas impensadas que definem o destino de um indivíduo ou de uma civilização.


Dostoiévski, em sua exploração da psique humana, nos deu personagens que vivem à mercê dessa dinâmica. Raskólnikov, em Crime e Castigo, acredita que um ato pontual—um assassinato justificado por uma lógica utilitarista—poderia libertá-lo do peso de sua condição social. Mas seu desejo de provar sua superioridade filosófica colapsa sob o peso de sua consciência. O ato dura instantes; a culpa, no entanto, se torna sua prisão perpétua.


Nietzsche, ao proclamar a transvaloração de todos os valores, nos alerta para o perigo da moral tradicional, que reprime os impulsos e domestica a vontade. Mas o que acontece quando o desejo se liberta de qualquer amarra? Quando a existência se torna um ato de pura afirmação instantânea, sem a consideração do que virá depois? Há um abismo nesse pensamento, pois, se tudo é permitido ao instante, o homem pode se tornar escravo de suas próprias vontades passageiras, sem perceber que, ao ceder a elas, pode estar hipotecando sua eternidade.


O tempo é assimétrico: o desejo que nasce e morre num instante pode lançar suas sombras sobre uma vida inteira. O prazer de uma mentira pode ser breve, mas o peso da desconfiança que ela gera pode ser perpétuo. Um erro cometido em um momento de impulso pode construir uma cadeia de eventos irreversíveis.


A sabedoria, então, consiste em compreender essa dialética entre o instante e a permanência. O verdadeiro desafio da existência não é sufocar o desejo, mas compreendê-lo e reconhecer que cada escolha traz consigo um eco que pode ultrapassar sua origem.


A pergunta que resta é: estamos prontos para suportar a eternidade das nossas próprias decisões?

Subscrito

Bonani

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