O Eterno Conflito entre o Concreto e o Abstrato
O Eterno Conflito entre o Concreto e o Abstrato
E se a visão nos fosse negada? Se, privados da luz e das formas, navegássemos pelo mundo guiados apenas pelo som, pela cadência dos silêncios, pela harmonia sutil das vozes? Seríamos, então, menos superficiais? Ou apenas encontraríamos nova matéria para o engano?
E se o amor não fosse moldado pela carne, mas esculpido pela entonação de uma frase bem pronunciada, pelo timbre que ressoa em perfeita sintonia com os recessos mais íntimos do ser? Amaríamos, enfim, a essência e não a aparência? Ou nos tornaríamos prisioneiros de novas ilusões, tão frágeis quanto as antigas?
E se fôssemos capazes de ler pensamentos, como se as ideias fossem escritas no ar? Se as palavras pudessem ser absorvidas antes mesmo de serem ditas? Quantos, ao se verem nus diante da verdade de si mesmos, suportariam o peso da própria incoerência? E quantos, diante da grandeza alheia, se revelariam menores do que gostariam de crer?
Mas o mundo não é esse, e talvez nunca seja. Pois escolheu não ser o de Clarice, onde a palavra desliza pelas frestas da alma, nem o de Machado, onde a ironia desenha o contorno das vaidades humanas. Não é o de Schopenhauer, onde o véu de Maya encobre a tragédia da existência, nem o de Nietzsche, onde apenas os fortes ousam dançar sobre o abismo.
O mundo, este mundo, prefere o que é fácil, mastigável, deglutível sem esforço. A vulgaridade senta-se à cabeceira da mesa e, com desfaçatez, dita não apenas o mercado, mas também o gosto. A ignorância não se expande, ela se prolifera como uma praga, multiplicando-se em ritmos geométricos, enquanto o conhecimento, lento, meticuloso e exigente, rasteja contra a maré da indiferença.
Não acredita? Então olhe ao redor. Observe o que se consome, analise o que se venera, perceba o que se aplaude. Encontre, se puder, algo que se sustente além do instante, algo que valha mais do que um simulacro de pensamento. Tente extrair da massa amorfa uma centelha de substância. E se falhar, pergunte-se: o erro é seu, ou do tempo que nos engole?
Oliver Harden
Subscrito
Bonani
Comentários
Postar um comentário
Escreva aqui seu comentário e enriqueça ainda mais o Blog com sua participação!