DESAFIOS DE CRESCIMENTO E PLANTAÇÃO DA IGREJA NO CONTEXTO PORTUGUÊS


Portugal vive hoje um dos momentos mais críticos desde a "Famosa  Revolução dos Cravos" de 25 de Abril de 1975 que pôs fim ao regime ditatorial que dominava até então as decisões políticas da Nação!
Não acredito em obras do acaso mas em contextos, que se transformam em oportunidades para que o Reino de Deus e sua Soberania seja reconhecido, aceito e vivido em sua mais plena expressão!
Quero crer que o momento atual é propício para  a formação de uma grande "frente de reconstrução nacional" à partir da consciência de uma verdadeira cidadania que só o Evangelho pode propor! 
Sendo assim, segue abaixo o trabalho de uma de minhas alunas de "Crescimento e Plantação de Igrejas", disciplina  que ministro em nosso Centro Missionário. Tenho o prazer de postá-lo, pois, até o presente momento,foi um dos que melhor  retratou o desafio de alcançar com o Evangelho, esse Portugal, essa Nação por mim tão amada

                                DESAFIOS DE CRESCIMENTO E PLANTAÇÃO DA IGREJA
NO CONTEXTO PORTUGUÊS


                                                                     INTRODUÇÃO


            No livro de Actos dos Apóstolos encontramos os mesmos desafios que detectamos hoje no crescimento e implantação de igrejas e, por isso, fazemos referência a versículos que espelham que não são assim tão diferentes os desafios que se levantam nos nossos dias no que respeita à propagação, espontânea e estratégica, do evangelho no nosso país.
            Por isso, o livro de Actos dos Apóstolos é modelo no passado e para o futuro das nossas igrejas.
            Actualmente, beneficiamos até de um ambiente de liberdade religiosa que permite a propagação do evangelho sem derramamento de sangue, prisão ou tortura que sofreu a igreja primitiva.
            É necessário, portanto, aproveitar a insatisfação e desorientação geral do povo português para, em situação de crise económica, familiar, emocional, apresentar as boas-novas, dando testemunho da esperança que há em Jesus, principalmente nos momentos em que não eixste solução à vista natural.
            Não obstante, cada povo tem as suas particularidades e lastro cultural que deve ser tido em conta quando se projecta uma igreja em Portugal.
            Adiante enunciamos alguns desses factores que julgamos terem maior expressão no contexto português.


1.     IDOLATRIA
A religiosidade do povo português manifesta-se no apego à tradição, aos rituais, à adoração a Maria, no rosário, no cumprimento de penitências e na adoração a santos, nas festas religiosas populares, com procissões e cerimoniais canónicos, no contexto católico romano, que remonta à fundação da nação.
A Palavra de Deus adverte-nos contra o culto de imagens, contra a adoração da obra e não do Supremo Criador (Deut 4:16-19, Act 7:48)
Quando Paulo chegou a Atenas comoveu-se por ver a cidade tão entregue à idolatria e essa compaixão levou-o a agir também naquela cidade, anunciando com sabedoria o único Deus Todo-Poderoso e o arrependimento para salvação em Cristo (Act 17: 24, 29)
É interessante notar que Paulo usou como ponto de partida a “força inimiga” para fazer passar a mensagem evangelística, apoiando-se na linguagem dos destinatários.
Anota-se ainda a oposição que se levanta por parte de todos aqueles que fazem da religião um negócio (Act 19:23-27).
Em Portugal existem grandes interesses económicos no meio religioso católico romano, por exemplo, na exploração comercial da religião, cujo expoente máximo em Portugal é Fátima.
Maria é apresentada como mãe de Deus, intercessora e até redentora, esquecendo que Jesus é o caminho, a verdade e a vida e ninguém chega ao Pai senão através d’ELE (JO 14:6; Act 4: 12)
Transmitir o respeito por Maria, enquanto mãe de Jesus, fazendo notar que a mesma não assume, nas escrituras, o papel de divindade é um dos grandes desafios da evangelização nos nossos dias, no contexto português.
Outro dos desafios no meio predominantemente católico romano é mostrar que a salvação vem pela graça – é dom de Deus - e não é recompensa pelo esforço humano (Ef.2:8-9)
Podemos dizer que, no genuíno evangelho, menos é mais (Jo 3:30)


2.     SINCRETISMO RELIGIOSO

As múltiplas influências de outras culturas e outras religiões, nomeadamente orientais, invadiram o nosso contexto que, já de si, aceita facilmente práticas de ocultismo, feitiçaria, espiritismo, divinização do homem, inclusive na televisão, em horário nobre, contaminando e instrumentalizando as mentes de muitos.(Act 8: 11, 18-20; Act 19-19, Act 17:21)

As necessidades insatisfeitas dos homens fazem com que os mesmos procurem soluções nos lugares errados, sujeitando-se à manipulação e exploração das suas debilidades, criando muitas vezes dependências de personalidade dominadoras e arbitrárias.


3.     RELATIVISMO ÉTICO

A crise de valores está também instalada no contexto português e constitui um desafio para o crescimento da igreja. Propagou-se a filosofia do “segue o teu coração” em desfavor dos firmes e intransigíveis princípios de Deus.
Ora, o coração é enganoso (Jer 17:9) e a Palavra de Deus alerta-nos para a falta de autenticidade: Act 5: 1-10.
Os cristãos evangélicos devem dar testemunho de integridade e carácter em todas as áreas da sua vida (Act 5: 29; Act24:16).
Desta forma, a igreja poderá transmitir segurança, de geração em geração, a partir, nomeadamente da família e da instrução dos filhos no caminho do Senhor.


4.     FALSO CONHECIMENTO

Em Portugal há uma grande número de cristãos nominais que pensam que já conhecem Deus e por isso, resistem ao verdadeiro evangelho. (Act 26-27-28, Act 28:23-27)
É necessário mostrar a acção e intervenção de Deus nas nossas vidas, nas pequenas e nas grandes coisas, nos milagres e nas provações, por meio da sua graça (Êxodo 33:14, Rom 8:14-17, Jó 42:5)


5.     FATALISMO

A crença de que tudo é determinado pelo destino impede o novo nascimento em Cristo Jesus  (Jo 3: 3, 2 Cor 5:17) e a justificação dos pecados em Cristo Jesus (Rom 8:1)

Pela acção do Espírito Santo, derramado no dia de Pentecostes, foi notória a transformação de homens simples em testemunhas ousadas do evangelho e do poder de Deus, através de sinais e prodígios (Act 2:4, 7; act 3: 11-19)


6.     MATERIALISMO

As novas tecnologias e o desejo pelo conforto material orientam as vidas de muitos portugueses que dão, assim maior importância à aparência do que ao espírito.
Existe também uma grande tolerância cultural em relação à corrupção. (Act 2: 44-45; 4:34-35; 20: 35; Act 24:26)
A Palavra exorta-nos a buscar em primeiro lugar o reino de Deus e a ajuntar tesouros nos céus (Mateus 6:19-20, 31-34)
Ora, não há crescimento sem fé, nem obediência ao comando divino (Act 16:5).

7.     INDIVIDUALISMO

O egoísmo, o isolamento, o hedonismo são obstáculos à entrada do evangelho no coração e na mente dos homens. Hoje em dia cada um vive por si e para si. O português tem dificuldade em abrir as suas casas para a propagação do evangelho. A actual crise económica pode, no entanto, ser uma oportunidade para apelar à união e à solidariedade.
Na palavra de Deus encontramos o exemplo dos primitivos cristãos em Actos 2:  42-47.

8.     MELANCOLIA

O Português típico vive ainda muito do passado, daquilo que foi e quase alcançou (“foi por pouco”, “foi azar”, “podíamos ter ganho”).
Existe um pouco a mentalidade de que nada precisamos fazer no presente, porque ainda estamos à espera do que não veio (“sebastianismo”) e, por falta de fé, perdemos esperança no futuro (Act 27:20)
No entanto, Paulo e Silas, mesmo aprisionados louvavam a Deus, dando testemunho da vitória que já criam ter em Cristo (Act 16:25).
Também Paulo infundiu coragem e deu testemunho de Deus em momentos em que tudo parecia estar perdido (ex. naufrágio, Act 27:22-25, 35-38).

9.     BAIXA AUTO-ESTIMA
O português tem pouca auto-confiança, é introvertido e desconfia do desconhecido.
Ora, Deus mesmo escolheu-nos para sermos portadores do evangelho, vasos do Espírito Santo e, por seu intermédio, fazermos discípulos de Jesus (Jo 15-16, Act 9:15; 18:9-10, 2 Tim 1:7,)

10.  INVEJA
O espírito de comparação, divisão, competição, maledicência e disputa, assim como a murmuração pode afectar a expansão da obra (Act 13: 44-45; Act 21:27-30; Act 22: 21; Act 24-2-9, Zacarias 8:16-17)
Há, portanto, que vigiar, orar e firmar os nossos pensamentos na Palavra (Act 20:31-33, 36)

11.  REBELDIA
O povo português tem grande dificuldade com relação ao respeito pela autoridade e, consequentemente, com a pronta obediência à vontade de Deus.(Act10:14; 17:5; 19:9, Act 13:46; Act 21-12)
Devemos renovar constantemente o nosso pensamento para que possamos demonstrar que a vontade de Deus é boa, perfeita e agradável (Rom 12:2)
Com testemunho vivo de submissão às autoridades a Igreja de Cristo pode ter uma presença influenciadora na sociedade portuguesa.


Conclusão

O crescimento e plantação de igrejas tem sempre a sua génese no chamamento divino e na transformação da mente e do coração do homem, por meio da Palavra de Deus e do Espírito Santo.
Nenhuma obra se desenvolve sem oração e sem testemunho, do que o tempo sempre atesta.
Tão-pouco pode fluir pela força humana ou pela imposição, mas pelo Espírito (Zacarias 4:6).
O relacionamento com Deus reflecte-se também na profundidade dos relacionamentos que se estabelecem entre os irmãos e, consequentemente, na comunhão e união fraternal no seio da família de Deus.
A igreja de Cristo é um organismo vivo, em movimento, na direcção do Espírito santo, onde os dons e ministérios de Deus existem para a edificação do corpo, todos cooperando para a expansão do reino.
Os pontos fracos do povo português podem ser os pontos fortes da igreja evangélica, se esta souber como fazer da resistência força (Act 9:31).

Há que reconstruir, mesmo a partir dos escombros! - ( Maria Raquel Queirós Valente Moutinho é Juíza de Direito)

BONANI




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